“O Poço“, atualmente é o grande filme de destaque da Netflix, filme é do diretor Espanhol Galder Gaztelu-Urrutia, ganhou a escolha do público no festival de Toronto no ano passado. Claramente tem a ver com crítica ao que podemos chamar de realidade social devido às marcantes características do enredo.
O Cenário é um poço gigantesco, como se fosse uma prisão especial, onde as pessoas ficam confinadas em um edifício de um cômodo e com um vão imenso no meio, e sem janelas.
É sempre servida comida para todos, com um porém que faz toda diferença. É servida de cima para baixo, ou seja, quem está no primeiro andar, tem a comida que seria servida a todos abaixo.
O filme “O Poço” tem pelo menos 4 pontos-chaves que revelam umas trívias interessantes. Vamos à primeira delas:
1ª Trívia – NOMES
O nome do protagonista é Goreng . “goreng” significa “frito” na língua da Indonésia, como no prato, Nasi Goreng que significa arroz frito. A maioria dos nomes das personagens tem alguma relação com a Indonésia e região.
- Trimagasi lembra muito “Terima Kashi”, que é “obrigado” na Malásia.
- Imoguiri, seria “Imogiri“, montanha de neve, e também é codinome para Himalaia.
- Baharat é “pimenta” em árabe.
- E por fim, Miharu é de fato um nome japonês para mulheres e significa “céu azul límpido e maravilhoso”.
É interessante notar que os nomes foram dados a cada um pela administração do sistema, o que cria uma formatação única aos integrantes do poço, e Miharu é o único nome que parece ser real no filme.
2ª Trívia – OS OBJETOS
Cada objeto representa o dono de alguma forma, o que poderia ser comparado na vida real com as coisas que gostamos de exibir. Assim, elas parecem se espelhar em características pessoais dos personagens.
- Trimagasi: Escolheu levar uma super faca. Um objeto simples, óbvio, mas que pode ser bem perigoso.
- Imoguiri: Seu cachorro. Chamado de Ramses II, famoso faraó, sua dona veio da própria administração do sistema. Sempre muito educada, se comporta como um oráculo.
- Bharat: trouxe uma corda. Ele é negro e queria subir os níveis pra se libertar.
3ª Trívia – DOM QUIXOTE
Goreng escolheu levar consigo o livro com o conto do Dom Quixote. Podemos separar uma trívia só para esse aspecto pela riqueza de informações que essa característica traz.
Dom Quixote é um personagem extremamente romântico (literariamente falando), sonhador e talvez um pouco lunático. Acima de tudo, é valente e nunca, por nada na vida, desiste dos seus sonhos. Goreng pode ser muito bem comparado a tudo isso.
Ele é praticamente o único que tenta resolver o desafio sem solução do poço em vários momentos no filme. (alerta de spoiler) Ele até encontra outro “lunático” (Baharat), assim como D. Quixote tinha Sancho Pança, pra ajudar a resolver o problema daquele lugar.
Muitas facetas te podem fazer lembrar dessa associação sendo que até musa romântica tem para Goreng nessa história.
4ª Trívia – MESSIAS
Acredito que uma associação com a questão religiosa seja inevitável. Os dois próximos parágrafos serão inevitavelmente spoilers, portanto, pule eles se quiser ir pra conclusão final dessa reflexão.
(alerta de spoilers) O filme trás em alguns momentos diferentes símbolos religiosos, tanto diretamente quanto indiretamente. Os meses se passam como se fossem reencarnações, Imoguiri chama Goreng de messias, Baharat é um cristão fanático e torna-se um fiel seguidor do protagonista, e no final, tem que levar uma mensagem de solidariedade a todos.
A ideia de que a mensagem tem que ser levada a todos, talvez te lembre um processo evangelizador, pois Goreng e Baharat vão ensinar a todos ali como se comportar. Enfim, Galder revela que o final era tão caótico que acharam melhor reescrevê-lo, portanto, o filme tem um desfecho mais esperançoso e com uma moral final.
Concluindo, o próprio diretor diz que a ideia principal é sobre como a distribuição de riqueza no mundo é feita há mais de 200 anos. Apesar disso, tem críticas políticas pro gosto de todos, seja sistemas políticos de esquerda ou direita.
Os nomes dos personagens por exemplo, pode ser uma referência a Pol Pot, ditador indonésio responsável pela morte entre 1975 a 1979 de 300 mil indonésios pela fome.
De qualquer forma, está claro que se trata de o quanto estamos todos interligados numa sensível rede de consumo e bem-estar, e que o mais importante, é que o “O poço” convida a refletir sobre a importância da solidariedade.
É importante lembrar que solidariedade não tem lado político, e nem pode ter. Todos estão vulneráveis a se dar bem ou se dar mal na vida. E não importa em qual level estamos, sempre haverá alguém um level acima.
Obrigada pelo seu comentário! :-)