Dia dos namorados se aproximando! Nessa data em que somos bombardeadas por tantas mensagens românticas, faz-se importante falar de relações amorosas de uma forma mais crítica e consciente.
O amor sempre foi um campo difícil para as mulheres. O tipo de dificuldade vai mudando com o passar das gerações. No tempo das nossas avós, o casamento era algo a ser mantido a qualquer custo. Violência física ou infidelidade eram coisas a ser suportadas pelas mulheres.
Hoje, o cenário parece o oposto: relações efêmeras e supérfluas, a superficialidade potencializada pela era dos aplicativos.
A regra parece ser não se apegar, a autossuficiência tornou-se valor fundamental. O esforço em parecer muito autossuficiente é notável nas redes sociais e nas personas que se mostram por aí.
O sexo tornou-se banal. Supostamente, a liberdade sexual feminina foi conquistada.
Se o resultado disso deveria ser mulheres mais bem resolvidas e com menos dificuldades na vida amorosa, o que se mostra nos consultórios de Psicologia é o contrário: mulheres cada vez mais frustradas com a vida amorosa, o desespero por um relacionamento mostrando-se nas entrelinhas de suas falas sobre o quanto são autossuficientes e não precisam de ninguém.
O que será que houve no meio do caminho entre esses extremos?
Parece que o que aconteceu é que as relações amorosas adequaram-se ao que sempre foi conveniente para os homens. A monogamia, que passou a ser enfaticamente questionada no século XX, sempre foi regra apenas para as mulheres.
A banalização do sexo também sempre foi a regra no mundo masculino. Talvez, nós, mulheres, percebendo o privilégio social dos homens no campo amoroso, fomos atrás de ter direito ao que eles já tinham.
Mas acredito que estamos descobrindo, a duras penas, que não necessariamente há liberdade nisso.
A supervalorização do individualismo, a regra do “não se apegue”, juntamente com as mensagens culturais de que mulheres só se realizam através de um relacionamento com um homem – e da maternidade – têm gerado uma espécie de esquizofrenia comportamental que faz com que as mulheres estejam cada vez mais confusas em relação ao que elas mesmas querem!
Por isso, faz-se mais importante e necessário do que nunca a conexão com a nossa verdade interior.
Estamos muito perdidas entre mensagens dicotômicas que nos dizem que se apegar é fraqueza, ao mesmo tempo em que nos faz assimilar que só seremos realmente completas – e socialmente respeitadas – quando tivermos o título de mulher casada e de mãe.
Ainda faz parte da socialização feminina a crença de que a presença de um homem é absolutamente indispensável para uma vida feliz.
Quando eu falo em socialização feminina, estou me referindo a um processo complexo que envolve representações sociais de feminilidade veiculadas na sociedade através dos discursos, da publicidade, das histórias que ouvimos desde a infância, dos filmes a que assistimos, dos valores passados de geração em geração, etc.
Tudo isso perpassa a formação da nossa subjetividade enquanto mulheres desde que nascemos e passamos a estar expostas a todos esses estímulos.
Faz parte das representações sociais de feminilidade a mulher sábia que edifica o lar, assim como a donzela que sabe transformar o sapo em príncipe através do seu amor. O amor romântico ainda é um produto vendido infinitamente mais para as mulheres que para os homens.
Tudo isso faz com que Tudo isas mulheres ainda paguem preços muito altos para não estar sozinhas.
Às vezes, esse preço é o de suportar a situação hierárquica que está presente em todas as relações heterossexuais, sem se opor a isso, topando pequenos acordos velados e sutis contra si mesma, muitas vezes sem se dar conta.
Outras vezes, esse preço é o de suportar maus tratos mais evidentes, silenciamentos, pequenas violências psicológicas. E, em outros casos, esse preço se refere a suportar traições e violência física.
É difícil encontrar um equilíbrio em meio a tudo isso. Mas o que eu proponho é, em primeiro lugar, a tomada de consciência em relação à confusão que essas mensagens ambíguas causam.
A autossuficiência nunca foi tão valorizada. Mas, de certa forma, ela é uma ilusão. Ninguém é tão autossuficiente assim. Essa crença empobrece relações e faz com que você reprima um lado seu que quer estabelecer vínculos que não sejam apenas superficiais.
O problema de reprimir isso é que faz com que ganhe força, fazendo com que essa necessidade fique cada vez mais latente.
Por outro lado, esteja atenta à força das mensagens implícitas de que você só será feliz se tiver um homem ao seu lado. Estar em relacionamento amoroso só vale a pena se for pra aumentar o seu nível de felicidade de alguma maneira, o que nem sempre acontece.
Pagar o preço da própria infelicidade para dar uma satisfação à sociedade é algo que NÃO VALE A PENA.
Mulheres estão adoecendo para se manter em relações que sugam sua energia vital, apenas para poder dar essa satisfação à família e à sociedade.
Nem uma coisa, nem outra: você não tem que ser totalmente autossuficiente e nem tem que estar em um relacionamento pra ser feliz. Apenas canalize sua energia pra você, pras coisas que deseja conquistar e viver.
Preocupar-se em dar satisfação aos outros é um desperdício da linda energia que há em você. Existem inúmeras maneiras de nos realizar e de sermos felizes.
Estar em uma relação amorosa saudável é apenas uma delas. Invista bastante em uma relação de amor consigo mesma, para que quando e se for o caso de aparecer alguém que realmente te conquiste, você esteja pronta para viver isso sem idealizações e sem os padrões emocionais dependentes que a socialização feminina estimula e favorece.
O mais importante, no fim das contas, é estarmos felizes. E não há receita de felicidade.
Mas, se podemos dizer que há um fator que a favorece imensamente, é viver de acordo com nossa verdade. Conecte-se ao que é verdade para você.
Construir uma vida de acordo com o que faz sentido pra você deve sempre estar acima da preocupação sobre como a sociedade te julga ou te vê. E que você esteja feliz, mas não perca tempo tentando provar isso pra ninguém!
Texto de colaboração por:
Karina Mendicino de Oliveira
Psicóloga Clínica e Mestre em Psicologia Social CRP 04/44106
Instagram: serinteirapsicologia
www.serinteira.com
(31) 97520-4331
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