Se você não quer se decepcionar com o que viu de Bohemian Rhapsody no cinema, pare de ler esse artigo aqui.
O Filme é bacana no que diz respeito a resgate de registro histórico, produção técnica, e tal, mas isso é o máximo de elogios que vai encontrar nessa leitura. Daqui pra baixo aperte os cintos, já vamos começar na fogueira.
Quem assistiu o filme teve a impressão de que a revelação para a banda feita pelo cantor de ser aidético, em um ensaio pouco antes do icônico show Live Aid, e que teria levado a banda a se apresentar de uma forma inesquecível especialmente por esse motivo.
Infelizmente isso não rolou dessa forma, Freddie só soube que estava com a síndrome 2 anos depois de Live Aid (show de ajuda humanitária à África, 1985).
Jim Hutton é retratado como um garçom contratado para uma das festas de sexo drogas e rock n`roll de Freddie, cujo flertou com o rapaz e acabou levando um fora de coração bem dado.
Na vida real esse encontro aconteceu em uma boate gay em Londres, e Jim era um cabeleireiro.
É bem esquisito também acreditar que, depois de ter procurado de casa-a-casa em Londres por Jim Hutton, que o cantor teria levado direto dali pra conhecer seus pais. E isso depois de, anteriormente, terem tido seu primeiro e único encontro graças à passada de mão de Mercury na bunda de Jim.
Não só parece pouco factível, como demoniza sua fase de descoberta queer. O filme também denota ser binário, em que a vivência de orientação sexual de uma pessoa só teria dois conceitos, hetero ou gay, desconsiderando as nuances dessas questões.
Esse artigo não foi feito para defender festas regradas a álcool, drogas e abusos irresponsáveis da sexualidade, muito longe disso, por trás dessas críticas vai perceber que o objetivo aqui é prezar pela liberdade de cada um de ser o que é.
Ninguém é originalmente promíscuo, muito menos isso deve ser associado à orientação sexual de quem quer que seja.
Assim, o filme retrata Freddie numa via sacra, em que pena um longo caminho de terrores e pavores até dar a volta por cima e reatar amores e amizades num mundo mágico da “normalidade” como a salvação da danação eterna.
Vejo com alguma preocupação o fato de que todos os outros personagens são retratados como um porto seguro, sem conflitos, sem vícios, e sem perdições.
Também não quero manchar a reputação de ninguém que nem conheço direito, mas me incomoda um pouco ver uma história que parece misturar conceitos, reduzir experiências de uma pessoa tão genial e rica de vivência como certamente foi Farrokh Bulsara (nome original de Freddie Mercury).
E pior, pintar sua descoberta de sexualidade como uma eterna danação lasciva e doentia, enquanto os outros ditos “normais” são angelicais e parecem ser os únicos aptos salvá-lo de si mesmo com padrões standard de “amor”.
Então vamos refletir: faltou protagonismo de Freddie sobre sua própria história no filme Bohemian Rhapsody?
Obrigada pelo seu comentário! :-)