Há algum tempo que as tranças africanas estão na moda. Sinônimo de praticidade, elas não só auxiliam no crescimento e fortalecimento capilar como também fornecem um visual bonito e prático para quem não quer perder tempo finalizando as madeixas.
Ao contrário do que muitos pensam, as tranças afro podem ser usadas em todos os tipos de texturas capilares, já que para cada uma delas existe um métodos específico de amarração e aplicação que impedem que elas se soltem e os fios sejam danificados.
Muitas foram as famosas que já aderiram as tranças, como por exemplo, a cantora Anitta, a Influencer Fernanda Keulla, a atriz Isabella Santoni e empresária Bianca Andrade.
Mas estas famosas foram fortemente criticadas nas redes sociais levantando um importante debate: O uso de tranças por pessoas brancas é apropriação cultural ou valorização da cultura negra?
Antes de começar este debate é importante entender o que é a apropriação cultural.
A palavra apropriação significa apoderar-se de algo que não lhe pertence, tomar a posse, tornar próprio.
A apropriação cultural consiste em adotar elementos específicos de outra cultura como vestimentas, penteados, símbolos etc. tornando-os característica de outra.
Quando uma pessoa de pele clara usa tranças africanas ela está aderindo a uma tradição da cultura negra que possui um importante significado histórico e durante décadas foi marginalizada.
Através disto, as tornam mais acessível e admissível por outras culturas. A princípio, a idéia da disseminação do uso deste penteado pode parecer positivo, pois, teoricamente valoriza uma das mais belas tradições africanas.
Mas a repentina popularização também induz ao questionamento:
Por que após tantos anos de luta e tentativas de visibilidade da população negra só agora as tranças estão sendo vistas como algo bonito, tendo em vista que durante muitos anos foram descritas de forma pejorativa como algo “sujo”?
Diante de um contexto histórico onde a cultura negra foi muitas vezes invalidada para a implantação de hábitos e comportamentos tipicamente europeus, ver um negro usando tranças, turbantes ou o seu cabelo natural é um símbolo de resistência e afirmação de orgulho a sua ancestralidade. Existem inúmeros significados inclusos neste simples ato.
Contudo, quando a adoção da prática de trançar os cabelos é vista de forma positiva apenas por possuir pessoas brancas utilizando-a evidencia-se a problemática do racismo estrutural que está enraizado e velado na população brasileira.
Subtende-se através disto que o era ruim, “sujo” se tornou bom porque pessoas caucasianas, com os cabelos lisos estão usando. Anula-se o que foi feito pelo negro e cria-se uma “versão melhorada”criada pelo branco.
Devo ou não devo usar tranças africanas?
A liberdade individual é uma premissa da sociedade democrática. Uma pessoa pode e deve usar aquilo que gosta e faz com que se sinta bem.
É indiscutível a importância da moda para o bem estar e saúde mental dos indivíduos, mas alguns questionamentos são indispensáveis na hora de vestir algo, como por exemplo: esse uso é ético?
Estou usando de forma pejorativa (estou me fantasiando)? A minha atitude reflete e/ou reproduz a relação de poder e domínio sobre a cultura do povo de um continente que durante centenas de anos foi usurpado?
Leia também: Como ressignificar sentimentos.
O auto questionamento é essencial para assegurar que atitudes coesas sejam tomadas e que elas não inferiorizem a história de nenhum povo aliás, todas devem ser igualmente respeitadas.
“Muitas negras usam os cabelos alisados e pessoas brancas não reclamam”
Como foi dito anteriormente, a liberdade individual é uma premissa da sociedade democrática.
Mesmo atualmente onde o estimula-se cada vez mais a auto aceitação e a exaltação das origens africanas, existem aquelas pessoas que preferem passar por processos de alisamento capilar, clareamento de pele entre outros procedimentos, https://analbeads.pro este é um direito individual.
Mas é importante ressaltar que durante muitos anos mulheres negras, pardas ou até mesmo brancas com os cabelos crespos ou cacheados passaram por processos de alisamento devido ao padrão estabelecido que o considerado bonito era o cabelo liso.
São situações distintas que nos levam a refletir mais uma vez sobre o conceito de racismo.
Texto de Renata Sipaúba
Obrigada pelo seu comentário! :-)