Pra começar falar de AmarElo, você sabe quem é Emicida? Pra te responder isso, fui procurar o que tem sobre ele nessa fantástica rede social chamada Wikipédia (aliás, sei que ele presta atenção no que se diz por lá).
Mais conhecido pelo nome artístico Emicida, é um rapper, cantor e compositor brasileiro. É considerado uma das maiores revelações do hip hop do Brasil da década de 2000.
Wikipédia
Seus amigos diziam que ele vencia todos nas batalhas de freestyle, e daí surgiu Emicida, como a junção de MC com homicida. Ele acabou dando outro significado a esse nome criando uma sigla: Enquanto Minha Imaginação Compuser Insanidades Domino a Arte.
De qualquer forma, Leandro Roque de Oliveira foi capaz de superar esse caráter territorialista de rapper pra buscar um lugar que ainda não sabemos o quão longe vai. Mas ele mesmo explica mais ou menos onde quer chegar com esse show/doc Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem (2019 – Netflix).
Honestamente, não tenho que falar muito sobre isso, é um dever de todo caçador de emoções se informar dessa novidade. Escuta ao menos a primeira música do álbum. É um som agradável e de paz.
Todo o álbum é um bote salva-vidas. Ele basicamente fala das pelejas das pessoas e te convida com muita poesia, quem está no perrengue, a se inspirar pegando emprestado a força que está por trás daquelas palavras tão fortes.
Não atoa o Belchior está tão presente no começo da música n# 10, que também chama AmarElo, cantando aquele verso tão marcante que, nessa altura do campeonato, todos devem saber de cor.
Se curtir essa e quiser escutar as outras, vai ver que é um som entupido de referências de raízes brasileiras e nomes consagrados da música, especialmente sobre dos patrimônios culturais que nosso país tem de mais precioso, o samba.
Ele cita tantas referências que fizeram parte das suas criações, de forma geral, que não cabem nas mãos. É impressionante como cita cada uma delas com tanta propriedade. De fato, e tem uma história com cada uma delas. Vendo o filme de novo, acho que consegui contar pelo menos umas 60 referências, dentre músicos e personagens históricos.
Emicida é definitivamente um cara, como todo bom artista, que sabe honrar suas referências, sua origem, sua ancestralidade.
O título AmarElo aponta justamente isso, amar → elo. O que o liga com a vida, com sua origem, com as outras pessoas, com o tesouro que herdamos de grandes artistas? Mais que isso, quanto ouro dessa bagagem herdada podemos guardar pra enfrentar as fases ruins da vida?
Uma das características mais marcantes do filme sem dúvida é a qualidade das explicações, associações e referências com as quais ele se baseou pra criar as músicas.
Sempre ficava curioso, ao escutar Caetano por exemplo, de como ele teria chegado aos símbolos e significados de suas músicas. Emicida expõe esses bastidores de sua criação muito bem, não só em termos narrativos quanto gráficos.
Pra quem não sabe, a primeira vitória do artista, isso quando ele ainda tinha 15 anos, foi ganhar primeiro lugar num concurso nacional de HQ. Essa habilidade estética claramente esteve presente também nesse doc de seu álbum com tantos recursos gráficos muito bem organizados pra ilustrar sua narrativa.
Com tudo isso dito, volta e meia me pego desacreditado com a produção cultural da atualidade. Mas será que eu estava olhando no lugar certo?
Começa a prestar atenção nesse rapaz e vai ver como não dá mais pra reclamar de música de qualidade nos tempos atuais. Não necessariamente essa qualidade vem de onde a gente está sempre acostumado a procurar.
Obrigada pelo seu comentário! :-)