No filme “Judas e o Messias Negro”, Daniel Kaluuya mostra todo seu potencial mais uma vez. Nessa entrevista (cujo fragmento a gente colocou no nosso instagram pra você assistir), Daniel diz que não estava tentando “ser bom” mas principalmente “ser honesto” e deixar o papel fluir dentro dele.
Fred Hampton, foi o presidente do partido dos Panteras Negras e assassinado pelo FBI.
Kaluuya é fascinante nesse papel enquanto perambula pelo palco inspirando o público. Seus discursos eram fulminantes e tocavam profundamente quem quer que estivesse ali.
Foi capaz de unificar muitas frentes de resistência política como um movimento negro paralelo, um latino e até um de maioria branca. Roy Mitchell (Jesse Plemons) foi agente do FBI e articulador do esquema que tinha como objetivo desmobilizar o movimento dos panteras.
Quando seu informante William O’Neal (por LaKeith Stanfield, o Judas), trás a informação que Hampton “poderia vender sal para uma lesma”, não era exagero. Já estava dado que conseguiria unir em uma coalizão (chamada “arco-íris”) pessoas de todas as raças contra um inimigo comum, o estado com sua polícia repressora.
Desse modo, Judas e o Messias Negro é um daqueles filmes que tem que te convencer que vai ficar tudo bem, mesmo a gente já sabendo que a personagem morre porque é um ícone histórico de eventos que aconteceram.
Me lembrou um pouco Cidade de Deus em que eles mesclaram algumas entrevistas dos jornais com o que estava acontecendo naquele evento que resultou na história recontada nas telas de cinema. Esse filme tem um pouco disso também.
Hollywood tem hoje em dia um movimento de compensação cultural. É fato que uma certa “supremacia cultural branca” reina nos filmes mainstream, e que só agora isso começa a ter alguma mudança. Especialmente após a sociedade repercutir críticas em movimentos que inflamam o debate como #blacklivesmatters.
A princípio, a mim ainda causa um certo sentimento de novidade ver um filme tão protagonizado por atores negros e de histórias de negros contados da perspectiva deles, e não como se houvessem bandeirantes culturais, como nos filmes “The Blind Side” e “Green Book”.
Daniel Kaluuya e LaKeith Stanfield são dois atores fenomenais e antagonizam aqui uma das mais tristes histórias reais. Certamente conseguiram muito bem segurar essa barra da responsabilidade de representar um evento histórico sem parecerem rasos em termos de atuação dramatúrgica.
O filme nem mostra muito do que Fred foi capaz de fazer em Chicago, que seria mostrar ele em ação num trabalho fenomenal de unificar as pessoas em seus maiores desafios. Apesar de ter tido pouco tempo de vida (assassinado aos 21), nessa história ele quase que já é uma lenda.
Se quiser assistir, não se importe com o partidarismo político que é bem explícito no discurso de Hampton, não se preocupe em alinhar com nada. Assista com um olhar honesto e tente ver porque, naquele momento ao menos, era importante estar do lado de Fred.
Diretor: Shaka King
Elenco:
Daniel Kaluuya (Fred Hampton)
LaKeith Stanfield (William O’Neal)
Dominique Fishback (Deborah Johnson)
Jesse Plemons (Roy Mitchell)
Trailer:
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