A gente poderia dizer que Mães de Verdade tem dois filmes em um. São duas histórias. Na primeira, a gente fica preocupado com a protagonista. Na segunda, a gente fica preocupado com a antagonista.
Seria um erro adotar uma criança filha de uma pessoa da qual não se sabe nada? Será que a gente deve se compadecer com a história da mãe biológica?
Se esse é um assunto sensível pra você, pode ir se preparando que, certamente, vai mexer com sua emoção. Esse é um filme que contempla as mães nesse mês de maio. Diferentes mães que a gente tem.
Kiyokazu Kurihara (Arata Iura) e Satoko (Hiromi Nagasaku) são um casal que, no desejo de ter um filho, adota um bebê. Seis anos depois, enquanto vivem um feliz casamento, eles recebem uma ligação.
Uma garota chamada Hikari Katakura (Aju Makita), do outro lado da linha, alega ser a mãe biológica de Asato (Reo Sato), o filho adotado do casal. Hikari diz querer seu filho de volta e chantageia a família pedindo uma alta quantia de dinheiro.
Uma coisa bem interessante em Mães de Verdade, é o estilo de produção japonesa. Se prepare pra ver um filme contemplativo, portanto, certifique-se de que está bem descansado antes de começar a ver.
Naomi Kawase é uma diretora que explora muito momentos de silêncio na sua narrativa. Comecei a assistir já esperando esse tipo de condução, e não me pareceu exagerado (sabemos que existem outros muito mais contemplativos do que esse).
Mas o mais interessante sobre essa diretora Japonesa, é que ela sabe do que está falando. Uma obra que a fez uma grande referência no cinema mundial foi seu documentário Embracing sobre a busca de seu pai que a abandonou quando criança.
As cenas de personagens com as cerejeiras poderiam ser um quadro. Você é solicitado não só a acompanhar o enredo todo, como também observar com toda paciência a narrativa descritiva, tanto visualmente quanto verbalmente. E os atores, muito bem engajados na trama.
Dessa forma, mais de duas horas de filme parecem não ser o bastante pra descrever com toda aquela riqueza de detalhes os principais plots que envolvem as duas histórias principais.
Pra além disso, é uma história que aborda diversas questões que se contrastam no decorrer do filme.
Desde o pai que busca a paternidade, um pai que nega seu filho, o verdadeiro companheiro leal, um conquistador imaturo, a família acolhedora, a família tradicional excludente, uma mulher com dom de mãe mesmo nunca tendo filhos.
Em uma entrevista, Kawase disse:
“ser mulher tornou mais fácil para mim olhar de perto para o meu próprio ambiente. As mulheres tendem a ser mais intuitivas e confiar mais em seus sentidos”
É também possível ver um reflexo dessa fala com o filme, especialmente com a solidez da personagem Satoko. Esposo de Kiyokazu, Sakoto um pai e marido exemplar na história.
É bastante perceptivo a forma como ele consegue se conectar consigo mesmo e ter decisões profundas que permitiram ter uma vida conjugal emocionalmente saudável, o que nos leva a crer que Kawase o fez intuitivo e focado nos seus sentidos.
Fiquei impressionado com o tanto de situações e micro-situações antagônicas nessa história, e como Naomi Kawase te conduz na narrativa de tal forma que você se vê levado a pra um lado ou para o outro.
Notei também uma leve tendência a protecionismo cultural. Existem alguns símbolos que representam sutilmente um certo tipo de “contaminação” da cultura ocidental associados aos quadros que resultam em sofrimento das personagens.
Nesse sentido, os personagens que estão mais bem alinhados estilo de vida Japonês em termos ideais, são os que demonstram mais estabilidade e brilho dentro da história.
Ficha Técnica
Direção: Naomi Kawase
Roteiro: Naomi Kawase, co-escrito por Izumi Takahashi e An Tôn Thât, baseado no romance “Asa ga Kuru”, de Mizuki Tsujimura
Produção: Yumiko Takebe
Elenco: Hiromi Nagasaku, Arata Iura, Aju Makita, Miyoko Asada
Gênero: drama
País: Japão
Ano: 2020
Duração: 140 min
Classificação: 14 anos.
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