“Uma Noite de Crime: A Fronteira” – The Forever Purge (título original), nos apresenta uma obra que proporciona a sensação de que, aquilo tudo, ainda não fora visto nos 04 longas antecessores.
Como fazer um filme com uma temática “batida”, sem transformá-lo em um completo desastre clichê? James DeMonaco com o roteiro e Everardo Gout com a direção, nos dão essa resposta.
O pressuposto construído para a saga “Uma Noite de Crime” é atrativo: os Estados Unidos da América vêem-se na necessidade de criar uma lei que permita aos cidadãos fazerem uma “limpeza” no Estado. Afinal, as cadeias estão lotadas e os crimes impunes continuam percorrendo o país. Premissa essa que, no primeiro filme, foi algo extremamente intrigante. E tal ideia fez render um total de cinco filmes.
Então, por que, que com uma franquia “cansada” de utilizar a mesma narrativa entregando alguns filmes não tão empolgantes, resolveram trazer ao espectador mais uma obra deste gênero? Eu te conto o porquê!
Uma noite de crimes e sua crítica social
O enredo nos prende em sua narrativa, muito possivelmente, porque estamos vivenciando um suspense semelhante na vida real. No cenário político, social, cultural.
No longa, o que era para ser apenas mais uma noite de expurgo, se transforma em um terror para os cidadãos norte-americanos, pois as facções consideradas “cidadãos de bem”, “nacionalistas”, “patriotas”, resolvem prolongar a grande noite.
E numa decisão que fugiu ao controle dos criadores da Lei, esses desertores acabam por prorrogar a perseguição, tortura e matança, forçando a população a buscar novas formas de se proteger e escapar. Os principais grupos a serem caçados no Estado são os imigrantes, de todas as etnias.
Com o expurgo em vigência, um grupo de norte-americanos e mexicanos se veem unidos em prol de uma finalidade em comum: a sobrevivência. A relação tensa entre patrão e funcionário, compradores de território, cria uma narrativa que envolve a nossa atenção e nos faz expectar pelo próximo acontecimento com alvoroço.
Destrinchando um pouco melhor este grupo, até porque, nós os acompanhamos durante toda a trama, chegamos em Adela (Ana de la Reguera) e Juan (Tenoch Huerta) um casal mexicano que encontra abrigo em um rancho no Texas. Lá, temos os demais personagens que se unem ao grupo de fugitivos. Harper (Leven Rambin), Dylan (Josh Lucas), Caleb (Will Patton). Esses últimos são os donos do rancho que contrataram Juan para trabalhar como cuidador e domador de cavalos.
Ao longo do filme, somos apresentados às diversas formas de preconceitos tipicamente norte-americanos. Preconceito étnico relacionado à cor, cultura ou origem da pessoa. Os personagens entregam diálogos que nos puxam para esta reflexão.
Com boas cenas de ação, diálogos não exaustivos, cenário particularmente bem planejado e um constante suspense, percebemos como a narrativa traz, de forma inovadora, uma crítica social importante. Porque, ao invés de exaltar a impecabilidade da ideia do sistema criado e da perfeição que é O sonho americano; eles fazem uma potente crítica. E neste aspecto, conseguiram fugir completamente do ridículo e não cair em mais um clichê.
James DeMonaco abriu a franquia “The Purge” e, talvez, a tenha encerrado com “The Forever Purge”, apenas um palpite. Embora não tenha dirigido o último filme, fez um digno trabalho como roteirista, entregando a direção nas mãos de Gout.
Tendo em mãos, um orçamento por volta de US$18 milhões, o estreante diretor Everardo Gout, pode não ter deixado uma assinatura originária, mas não precisava se preocupar, uma vez que estava muito bem assistido pela Blumhouse Productions e Universal Pictures. Sabemos que a Blumhouse vem entregando trabalhos excitantes e maravilhosos.
Ressalto, a obra é muito bem construída, desde a fotografia – que acaba por ser bem original – passando pelo figurino, até à trilha sonora. E dale uma ótima trilha sonora. Tenho certeza de que vocês também sentiram essa pegada.
Uma das cenas que me chamou a atenção, na forma como a música entrou em consonância total ao diálogo, foi a cena do furgão de prisioneiros. E não direi mais nada, para causar uma ponta de curiosidades em vocês!
Minha crítica – e aqui faço valer o lembrete de que é com pura subjetividade daquilo que eu penso – é que, embora tenham trazido um excelente conteúdo a ser refinado, o exploraram pouco, o que pôde soar como um tema desabitado.
Assim, senti que é um filme que vale muito a pena ser assistido. Sem dúvida, volto a dizer o quão bem-produzido foi e que tem a medida certa de jump scares, suspense e não é aterrorizante. Mas, faltou dar mais profundidade à temática que eles desejaram trazer ao abordar a xenofobia que os mexicanos e indígenas sempre sofreram dos norte-americanos e a decadência do sonho americano.
Talvez, se tivesse construído diálogos mais profundos que dissecassem melhor as ideias expostas, a produção teria superado para além!
Ademais (e talvez seja um pouco de spoiler, então, fiquem atentos), já é um começo, não ser os Estados Unidos a salvar o mundo – até porque, o sistema falido nasceu em território nacional e assim devastou o próprio. Obrigando-os, portanto, a buscar abrigo “naquilo” que tanto criticaram ao longo de toda existência e exploração da História.
Encerro por aqui minhas impressões e convido vocês a assistir ao longa, refletir e nos contar quais foram os sentimentos despertos
Confira o trailer do longa:
Por Pabline Furst (@furst_pabline)
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