Sabemos muito bem que um dos gêneros cinematográficos mais explorados dos últimos tempos voltou a ser a comédia romântica, anteriormente explorada ao máximo nos anos 90. Em alguns casos, as obras não fogem aos clichês que as garras da comédia as prendem. O que, não necessariamente, é algo negativo.
Na maioria dos longas de comédia romântica o foco é voltado à narrativa tendo-se um gasto energético excessivo neste e, por tanto, não há uma real exploração aos protagonistas e demais atores em cena. Nesses casos a chance de serem narrativas entregues aos clichês cansativos é altíssima.
Em Um Casal Inseparável há um pouco desta fuga pois, Sérgio Goldenberg compreende a importância de voltar o foco para o trabalho em cima dos personagens conquistando a atenção dos espectadores de forma mais orgânica. O resultado é um filme de comédia-romântica simples, leve, excelente de assistir, com trilha sonora para se cantarolar ao longo das cenas e fotografias ótimas.
Esta sábia escolha de Goldenberg, que é bastante elogiada por todo elenco, torna-se visível logo nas primeiras cenas do encontro de Léo (Marcos Veras) e Manuela (Nathalia Dill). Este contato primeiro que temos com os atores e seus personagens já nos leva a lidar com a personalidade desses apaixonados de forma incisiva.
Léo é um pediatra conceituado, carismático e tímido. Manuela é uma professora e jogadora de vôlei de praia profissional, incisiva, objetiva, determinada, agitada, completamente decidida. Dá a nós, também, o gostinho de que o filme trará constantes inversões de papéis e rótulos sociais.
Por dentro da trama de “Um Casal Inseparável”:
O longa se passa na Cidade Maravilhosa, ostentando suas belas e agitadas praias, shoppings da classe média alta e alguns pontos turísticos e ou para visitas bem específicos.
Ao desenrolar da história, nos deparamos com o caso de paixão e amor de Manuela e Léo que, opostos em personalidade, vivenciam uma relação deliciosa, cômica, de proximidade e distanciamento. Mas não pense você que essa história deu seu start por vontade de ambos, muito pelo contrário. Foi a mãe, Esther (Totia Meirelis), alucinada, completamente engraçada e, que não mede esforços pela filha, quem tratou de unir este casal. Com suas artimanhas nada convencionais, por vezes dramática e até exacerbada, que ela os colocou sob o mesmo teto.
A princípio tudo ia bem, dentro das peculiaridades, claro, mas…. com uma forcinha de Manuela para que Léo aceitasse o novo emprego tudo vira-se de ponta à cabeça. Com a charmosa – e injustiçada – Cristina (personagem vivida por Danni Suzuki), Léo vê-se atraído diante das investidas da moça e, sem cortar logo de cara essas ações, acaba por criar uma atmosfera que leva Manuela a crer que eles estavam tendo um caso. Se é ou não realidade, só acompanhando o longa para saber.
A questão que fica para reflexão pode-se ser que: independente se houve a traição ou só um ambiente que assim sugerisse, não justifica essa possibilidade de Léo deixar acontecer algo que abalasse o respeito mútuo entre ele e sua companheira.
E cá nos deparamos – novamente – com as ideias megalomaníacas de Esther para colocar o casal em companhia. Acredite quando digo que são megalomaníacas as atitudes dessa mãezona! E se você pensa que Isaías (Stepan Nercessian) apoia as doidices dela, não se engane.
Pelo contrário. Tranquilo, e surpreendente ele vê de forma natural que Manuela queira seguir a vida como bem entende. Ele não pressiona a filha a encontrar um companheiro ou cumprir as exigências sociais de constituir família e prestar satisfações aos “de fora”. Paizão! Fato.
(ALERTA DE SPOILER)
Esse elenco em harmonia (Esther e Isaías em especial), rende excelentes momentos de descontração que funcionam como boa medida de “placebo”, uma vez que os protagonistas se distanciam pela separação. Afinal, quando há essa ruptura o filme perde um pouco o gingado, já que a sintonia monstra de Dill e Veras é ponto cume da obra.
Mas não se preocupem, tudo se resolverá.
Desenvolvimento dos personagens
Como destacamos logo no início, a direção de Sérgio Goldernberg permitiu que os atores e atrizes dessem, aos seus personagens, organicidade. Afinal, o elenco teve – de forma declarada à coletiva de imprensa – a liberdade em criar, com o apoio do diretor que se voltou para eles, que se divertiu com o elenco e que riu junto, o que proporcionou uma atmosfera tranquila e acolhedora. O resultado é visível na leveza em que o filme se desenrola, bem como no encontro entre os personagens.
Assim como Goldenberg inspirou-se em um casal de amigos da vida real para escrever o roteiro e dirigir o filme, Marcos Veras bebeu da fonte de seus personagens em “Porta Dos Fundos” para poder entregar um protagonista que não concentra o humor em cima de si mesmo, mas partilha o humor com todos os demais participantes da obra. O que traz uma ideia, explicitada pelo próprio ator, de humor criado em coletividade. Na maneira mais nobre que ele acredita que o humor deve ser feito, sem ser excludente e ou elitista. Mas que possa chegar a todos e envolver a todos.
A personagem da Nathalia Dill fala por si só, elogiada pelos amigos de elenco e pelo próprio diretor. A atriz entregou uma Manuela orgânica que, passando pela ótica dos espectadores, agracia aos críticos e agrada aos gostos dos demais. Não é uma personagem forçada e ou apelativa. É natural, é quem é, fazendo-nos crer que Nathalia e Manuela são a mesma pessoa. Que não há atriz por trás da pele da protagonista. Essa maestria não costuma ser tão fácil de se alçar. Então, fica aqui nosso reconhecimento e parabenização.
Danni Suzuki, por sua vez, não só reconhece que sua personagem Cristina é injustiçada, como clama por uma continuação do filme para que ela tenha espaço de se desenvolver melhor. Achamos justa a reinvindicação. Suzuki também ressalta que foi difícil conseguir entregar Cristina, uma vez que a atriz nada tem a ver com a personalidade de sua criação. Danni afirmou que não seria capaz de fazer as mesmas investidas ou insistir em algo que era, claramente, indevido.
Ao ser perguntada sobre qual conselho daria às mulheres que se encontram na mesma posição que Cristina, ela diz em tom divertido: “Não cabe nos metermos nas decisões alheias. Eu não faria. Não iria atrás de um homem casado, muito embora Cristina não insista e saiba a hora de tirar o time de campo. Eu diria para pensarem bem se vale a pena, se é isso que elas iriam querer para elas – caso tivessem na situação invertida, mas não faria. E a liberdade é de cada um de nós. É muito difícil entrar no âmbito do pessoal, porque cada um pensa por si o que julga melhor e o que julga certo.”
Stepan Nercessian, claramente, fez do set o local mais cômico do mundo e isso ficou bem claro com as declarações de Totia, Sérgio, Danni, Nathalia, Marcos, Esther Dias e Carlos Bonow.
Inversão dos papéis e a quebra das rotulações
“Um Casal Inseparável” acontece a partir de reflexões simples das situações do dia-a-dia que nos trazem planos e possibilidades muito intensas em nossa vida. O que leva o longa a quebrar alguns padrões estabelecidos da sociedade. E aqui, seguem alguns apontamentos de observação pessoal e do próprio elenco.
A inversão de papéis, onde a mulher se torna a provedora, como no caso da personagem Cristina, que vem de um casamento falido. Onde ela era pró-ativa em todas as decisões, bancava a casa, não tinha um retorno ativo de seu companheiro e isso a desestimulava.
Entre Manuela e Léo, ela é completamente independente, tendo suas posições pessoais tais como crenças, desejos, muito bem colocados o tempo todo. Léo é carismático, trabalhador, mas foge ao clichê dos mocinhos, porque desde o princípio (e com este erro ele encontra Manuela), comete equívocos que não cabe aos personagens como ele. Parar em local proibido, ter diálogos duvidosos com uma outra mulher, uma vez que já está em relação com Manuela, enfim. Uma boa quebra de tabus.
Tem a Rita, melhor amiga da Manu, que é completamente bem resolvida em suas escolhas, tem um relacionamento quase que aberto e assim vive bem, assim vive tranquila. Não tem e não se vê na necessidade de uma relação fechada para cair na graça das obrigatoriedades sociais que assim empurram as mulheres.
Stepan Nercessian é um pai compreensivo, que concorda com o fato de a filha ser uma mulher independente, que deva buscar e traçar seu próprio caminho sem se importar com o que o mundo pensa a respeito. Sem se preocupar com o que é exigido da mulher dentro do horizonte social no qual ela está entregue. Essa visão mais libertária e nada conservadora para um homem mais velho, permite uma transição bacana para o filme.
Outro personagem que vale destaque é o Paulo Edu, de Carlos Bonow. Um homem atlético, bonito, tipicamente desejável, mas que não esconde sua sensibilidade, às avezas do que se espera de um homem em sua posição. O ator declarou que é muito próximo ao personagem e que se identificou bastante, pois alega ser esse cara: grandão e completamente sensível, emotivo. Ele é o homem totalmente fora do clichê da masculinidade padrão.
Considerações finais
E assim, podemos dizer que “Um Casal Inseparável” nos desperta pensar que ainda é possível se divertir com comédias românticas autênticas. Perpassando dos personagens muito bem cuidados, de um trilha sonora que soube acompanhar a trama e de uma fotografia belíssima que é tipicamente carioca.
Assista ao trailer de “Um Casal Inseparável”:
A crítica de hoje foi feita em parceria:
Crítica por Breno Bedê e coletiva de imprensa por Pabline Furst.
Confira também a entrevista da nossa boss, Bele Machado, com a Nathalia Dill, Marcos Veras e o diretor Sérgio Goldenberg:
Leia também:
6 filmes nacionais de 2021 para assistir nos streamings!
Mate ou Morra – Crítica de estreia
AÇÃO, SUSPENSE E MATANÇA: “Uma Noite de Crime: A Fronteira”
- Por dentro da trama de “Um Casal Inseparável”:
- (ALERTA DE SPOILER)
- Desenvolvimento dos personagens
- Inversão dos papéis e a quebra das rotulações
- Considerações finais
- Assista ao trailer de “Um Casal Inseparável”:
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