O Hóspede Americano é uma minissérie brasileira em 4 episódios, que estreou dia 26 de setembro na HBO Max e HBO. Tem criação e direção por Bruno Barreto, roteiro de Matthew Chapman e produção exclusiva da HBO com co-produção Teleimage.
A minissérie é protagonizada por Aidan Quinn e Chico Diaz nos papéis de Theodore Roosevelt e Cândido Rondon. Inspirada numa história real, a obra mostra a expedição do ex-presidente dos EUA pela região amazônica, ao lado do explorador brasileiro.
E hoje vou contar um pouco do que o elenco compartilhou conosco na Coletiva de Imprensa, além de algumas curiosidades ao longo do projeto.
A história literária
Para muitos, é uma surpresa saber que o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosvelt, já se emaranhou nos braços da gigantesca e maravilhosa Amazônia. E é uma expectativa em ver a incrível história de Cândido Rondon e Theodore Roosvelt ser contada em detalhes nas telinhas.
Se você sabe do que estamos falando é porque, com certeza, é um amante da História e da literatura. E, provavelmente, já leu o romance de Candice Millard intitulado “O Rio Da Dúvida (2007)”.
Esta obra literária conta com uma pesquisa dedicada de anos – da autora – que traz preciosos arquivos como: diários, cartas, relatórios científicos e jornais e revistas da época. O livro “O Rio Da Dúvida” narra, passo-a-passo, essa aventura singular, que custou a vida de quatro homens e quase levou o próprio Roosevelt à morte no meio da mata.
“Em 1913, Theodore Roosevelt (1858-1919), que havia sido duas vezes presidente dos Estados Unidos, estava desiludido da política depois de ver frustrada nas urnas sua busca por um terceiro mandato. Espírito aventureiro, ele já havia realizado safáris na África e explorado o interior ainda bravio da América do Norte. Mas dessa vez, para purgar suas frustrações, escolheu um desafio ainda maior: mapear um rio turbulento e sinuoso, de percurso ainda desconhecido, no coração da selva amazônica brasileira.
Surgiu assim a Expedição Roosevelt-Rondon, em que o comando seria dividido entre o ex-presidente americano e o então coronel Cândido Rondon, o maior desbravador do interior do Brasil, responsável pela expansão da rede telegráfica nacional.”
(Trecho extraído da apresentação do livro – “O Rio Da Dúvida – The River Of Doubt” – MILLARD, Candice,(tradução de José Geraldo Couto) 2007 – Companhia das Letras )
O ponto de partida do diretor
Então, voltando a falar de “O Hóspede Americano”, o ponto de partida para Bruno Barreto, foi encontrar a história, não porque era algo escondido a ser revelado.
Mas porque é algo que existe e que precisava ser dito ao mundo da maneira com a qual Matthew Chapman conseguiu transcrever em um belíssimo roteiro. Ele abraçou com tanta obstinação da ideia de Barreto, que a minissérie pôde então, sair do papel e se tornar real.
Bruno queria trazer ao universo cinematográfico esta história, exatamente pela necessidade de poder dar luz ao personagem tão característico que fora Roosevelt. O excelente ponto de vista do homem que junto à figura épica de Rondon, desbravou Rondônia e trouxe à comunidade científica da época descobertas incríveis acerca de um lugar estonteante.
O roteiro entrega uma obra feita a partir do ponto de vista do ex-presidente norte-americano, muito embora tenha outras duas importantes visões de toda aventura da viagem; era a visão do “o peixe fora d’água” (Theodore Roosevelt) a quem Barreto gostaria de recorrer para poder dar vida à história.
E quando falamos de roteiro, falamos de Matthew Chapman e sua adaptação fantástica dos enes documentos, arquivos, livros, histórias a respeito dessa aventura, podemos dizer com muita certeza de que foi algo muito bem pensado e desenvolvido. Um roteiro, de fato, impecável.
Não são palavras de uma leiga, são palavras de todo elenco e de Bruno Barreto. Que não pouparam elogios quando se depararam com o material escrito.
Motivação do roteirista
De forma muito divertida, Matthew Chapman afirma que, para ele, foi uma obsessão. A atração pela persona de Roosevelt em resolver enfrentar uma aventura tão distante, no intuito de se reinventar, tinha um peso grandioso. As lutas que o ex-presidente defendia, a necessidade de preservar um patrimônio importante ao meio ambiente e ao mundo, o encontro de duas personalidades (Rondon-Roosevelt) convergentes e divergentes lhe fora tentador.
Bem como o fato de Chapman já ter conhecido a Amazônia anteriormente há alguns anos. Os pequenos encontros de interesse o levaram à – não só aceitar o convite de Barreto, mas dedicar-se em fervor à escrita e desenvolvimento do projeto.
Mais à frente, quando chegarmos às curiosidades, conseguiremos compreender melhor o porquê de o roteirista ter encarado com tamanha convicção o desafio de estar com Bruno Barreto na produção desta minissérie. Desde razões familiares à otimistas convicções pessoais/política.
A atração dos atores com a história de “O Hóspede Americano”
E, se para Chapman a motivação veio das personalidades fortes citadas por ele, para Aidan Quinn não fora diferente.
Segundo o ator, ele estava em busca de um papel diferente, que o desafiasse em relação a tudo que ele já tinha feito. Um papel em que ele pudesse dar o melhor de sua potência em atuar. Algo que fosse extraordinariamente, novo! E, assim aconteceu. Quando lhe chegara o material desenvolvido por Chapman e o convite de Bruno, foi como se “Deus lhe tivesse atendido as preces imediatamente”.
O personagem de Roosevelt chamara atraíra sua atenção pela forma fantástica com a qual fora relatado, e toda aventura, todo desafio que dalí viria a emergia, foram o ponto chave para que aceitasse participar da empreitada.
Para Dana Delany foi uma farra receber o convite. Afinal de contas, ela já havia filmado no Brasil há alguns anos e – a título de curiosidade – um filme cujo diretor Bruno Barreto havia participado da produção e Matthew do roteiro. Delany estava “em casa”.
Para além destas felizes – não – coincidências, ela também já conhecia Chico Diaz, o que tornou ainda mais atraente a proposta de poder fazer parte de um elenco em que ele também estivesse introduzido. Outro grato presente era o fato de sua personagem fazer par romântico com a persona tão memorável de Roosevelt. O roteiro lhe conquistou de imediato.
Chris Mason se sentiu agraciado pela sorte de integrar o elenco. Após receber o material de Matthew, teve a certeza de que ali estaria um papel ímpar que pudesse lhe trazer novas e significativas experiências.
Quem foi o Coronel Cândido Rondon?
Até o momento falou-se muito sobre Theodore Roosevelt, até porque grande parte do elenco só tivera contato – através da história e dos aprendizados de vida – com o personagem do Ex-presidente. Compreensível, uma vez que fora um importante e notória figura política internacional.
Mas, Rondon, também é uma figura notória e que merece todo reconhecimento.
Cândido Mariano da Silva Rondon, nasceu em Mimoso (MT) a 05 de maio de 1865. Era de descendência indígena por linhagem materna. Chegou a lecionar, como profissão de formação, mas, logo deixou a sala de aula para alistar-se de forma voluntária à Artilharia a Cavalo com ensejo de chegar à Escola Militar do Rio de Janeiro.
Ao longo de seus estudos e formação sofreu forte influencia de um de seus mestres, Bem-jamim Constant Botelho de Magalhães, líder republicano e positivista – fora dele que Rondon herdara o positivismo, doutrina que adotou e seguiu por toda a vida.
Quando realizou a expedição da construção de linhas telegráficas, acabou por estabelecer relações amistosas com os índios bororos, terenas e os quiniquenaus, estes últimos cujas terras vinham sendo invadidas por fazendeiros. À época Rondon iniciou a demarcação das terras dessas tribos, levando o governo do Mato Grosso à reconhecer a propriedade destes nativos. Colocou, também, os grupos indígenas cadiueus e os oiafés sob proteção da comissão, uma vez que estes vinham sendo assassinados por fazendeiros de gado.
Conhecendo um pouco melhor sobre a história deste homem, que é considerado um patriota e verdadeiro herói brasileiro, conseguimos perceber porque a minissérie proposta por Barreto e abraçada por Chapman é tão atual e bem-vinda ao contexto que enfrentamos na política nacional do momento.
Foi uma surpresa muito positiva para o elenco ter contato com a história deste brasileiro que fora uma pessoa de grande importância na expedição realizada por Roosevelt e a equipe trazida da américa do norte.
Os desafios de criar uma série de época
Ao roteirista a ao diretor, o maior desafio em criar uma série de época é trazer, para dentro de um roteiro e das telonas, diálogos que não se tornassem maçantes, mas que, não descaracterizassem a essência da história, do contexto em que ela se passa.
Acima de tudo, para ambos, o maior desafio fora, sem dúvida, a linguagem. Porque se tratando da época na qual a série se passa, há um excesso de coloquialismo nos diálogos e escritos da época. E, naturalmente, não estamos mais ambientados a este tipo de interação. Elas são muito próprias das grandes obras literárias e nosso contato – nos dias atuais – só virão através destas leituras.
Atrair o público para um ambiente totalmente outro, que exige um ouvido sem preconceitos e sem preguiça à linguagem totalmente formal daquela época é um baita desafio. E aqui, mais uma vez, vê-se um elogio ao excelente trabalho de Matthew ao criar o roteiro sabendo como conectar e equilibrar estas questões pontuais.
Dana Delany, por sua vez, também citou como fora desafiadora a questão de introduzir ao cotidiano essa pegada mais formal e que deveríamos voltar à tal prática, porque, segundo a atriz, é uma belíssima forma de se comunicar, praticamente viciante.
Água, câmera, ação!
Sim, água, câmera e ação! O maior e mais citado desafio, segundo o elenco de “O Hóspede Americano”, foi as gravações incansáveis na floresta, principalmente as cenas que se passam no “Rio Da Dúvida”. Se era uma boa aventura que os atores e produção procurava, acredite, encontraram. De problemas com os botes à inusitadas picadas de mosquitos, tiveram de tudo.
Aidan relata que assim que chegaram à São Paulo, ele já estava exausto. Gravava, pedia licença e ia direto para o quarto dedicar-se as páginas do roteiro para iniciarem mais gravações no dia seguinte.
E assim, também, fora um dos relatos de Chris, que desejava chegar ao hotel e apenas descansar e partilhar de uma boa cerveja com os novos amigos feitos ao longo dos meses. Mas, infelizmente, fora acometido por um pequeno incidente.
Durante as gravações na floresta, Mason fora picado por um mosquito e, sem saber do que se tratava, seguiu a semana gravando, sem dar muita importância ao fato. Quando estavam no hotel em São Paulo, Aidan o aconselhou à procurar um hospital, afinal, o que quer que estivesse no machucado dele, estava se mexendo.
De forma divertida eles contaram durante a Coletiva esta história, dizendo que o ator, Chris Mason, estava com um “baby mosquito” em sua cabeça. Quando na verdade ele não sabia que se tratava de um berne!
Inspiração para criar os personagens de “O Hóspede Americano”
Ao serem questionados sobre como fora a liberdade para criar os seus personagens e o que os inspirou, a resposta, em peso, foram sobre os registros históricos disponíveis em livros, pesquisas, diários, reportagens e no próprio roteiro.
Segundo Dana, ela já tivera contato com uma literatura que falava sobre a história de Edith Roosevelt: uma mulher inteligente, astuta no que se referia à política, fora uma primeira-dama exemplar que promovera muitas reformas dentro da residência presidencial. Nesta literatura ela pode conhecer, também, muito a respeito do próprio Theodore.
O enlace da relação de ambos, a forma como partilhavam de seus pensamentos políticos, gostosos musicais, crenças, desafios pessoais, a ansiedade e depressão de Theodore e a determinação de Edith, ajudaram a atriz a trazer vida à sua personagem de forma a honrá-la.
Para Mason fora parecido, buscou auxílio nos livros disponíveis que narravam a aventura de Roosevelt, mas que também traziam relatos do próprio Kermit Roosevelt. Estas leituras o auxiliaram na construção de seu personagem, a compreender a razão de ele sentir-se sempre à margem da figura paterna que era muito forte. Obviamente.
Assim como para Aidan fora também semelhante. Ele já conhecia algumas coisas a respeito desta empreitada de Theodore e aprofundou-se em suas pesquisas, aproveitou o fato de já conhecer o Brasil em decorrência de uma gravação que já havia feito no país anos atrás; pra poder buscar inspiração do que poderia fazer e qual originalidade e vida traria ao seu personagem.
A importância de se preservar a Amazônia
Para nós é claro que a Amazônia, assim como vários outros locais de preservação no nosso mundo, é de extrema importância para a manutenção e sobrevivência da vida no planeta. E não apenas da vida não humana, todos os animais, sejam eles racionais ou irracionais dependem da harmonia dos ecossistemas para manterem-se vivos.
Tanto na época em que a “O Hóspede Americano” é ambientada, quanto nos dias atuais, via-se a necessidade de manter em observação e cuidado a vida existente na floresta. Havia também e ainda há – acima de tudo – a enorme e gigantesca importância em preserva a vida dos indígenas, em garantir suas terras, garantir que a lei esteja e seja à favor destes.
Os nativos, melhor do que qualquer um de nós, sempre soube e saberá como o equilíbrio entre homem e natureza acontece, tais ensinamentos são de suma relevância ao nosso conhecimento.
Dentre outras razões, vemos aqui a notoriedade que se faz presente quando esta minissérie começou a ser produzida, ou melhor, quando ela foi pensada. Porque ela nos chega em um momento crucial de consciência. E, por mais que se tenha e veja discussões sérias a respeito, muitos indivíduos permanecem estáticos.
Para Matthew Chapman poder escrever o roteiro de uma série que não só se passa na Amazônia, mas também mostra toda diversidade existente nela e traz esse lado reflexivo da necessidade de preservação; é uma benção. É como um presente às sociedades nos tempos atuais.
Otimista quanto a questão, Matthew diz que tem esperança de que esta obra possa motivar os espectadores a buscar interesse quanto à emergência dos acontecimentos globais que veem prejudicando o meio ambiente e que tudo tem a ver com a questão da seleção natural de Darwin. Precisamos buscar compreender como é importante esse equilíbrio e harmonia, para que aprendamos a adaptarmo-nos e não esgotarmos todos os recursos de vida que nos são dados.
Já Barreto, embora concorde com a emergência da questão, não tem um ponto de vista tão otimista. Realista, segundo sua própria fala, ele pontua que os seres humanos estão isolados na ignorância de não ouvirem o que quer que fuja de sua zona de conforto. Que discussões e obras como estas devem e precisam acontecer, mas mantêm-se cético quanto à evolução do homem.
Dana e Chris também pontuaram e concordaram com Matthew sobre a visão otimista dele, orgulhosos em poderem fazer parte de uma produção que traz luz à estas questões.
Curiosidades de “O Hóspede Americano”
Tanto a atriz Dana Delany quanto o ator Aidan Quinn, já estiveram antes no Brasil, para outros projetos.
Dana afirmou que além de ter participado de outro projeto em nosso país, ela já tinha vindo ao mesmo à turismo. Considera como seu “segundo país”, já conhecia Chico Diaz de longa data. Nesta oportunidade de voltar ao Brasil, aproveitou para passear um pouco mais pela cidade de São Paulo, aventurou-se nos museus e apaixonou-se pelo MASP, bem como pelos móveis brasileiros que, sem perder tempo, adquiriu uma para colecionar. Outra queridinha do Brasil que conquistou o gosto de Delany e a acompanhou vários dais de suas aventuras foi a Caipirinha, a atriz conta aos risos que ama Caipirinha.
Chris Mason fez amizade com o elenco brasileiro da minissérie, afeiçoou-se por Chico Diaz com quem teve diversas partidinhas de futebol no hotel em São Paulo. Teve a oportunidade de turistar no interior do país e encantar-se com a Chapada dos Guimarães e se você pensa que ficou só no joguinho e no turismo, se engana. Badalou em uma festa em São Paulo onde tentaram ensiná-lo a dançar, mas divertidamente, ele nos conta que não deu nada certo. Que é atrapalhado demais para isto.
Agora, uma das curiosidades que mais nos chamara a atenção, foi o que Matthew partilhou durante a coletiva. Ele é bisneto de ninguém menos que Charles Darwin! Agora sim, está muito bem explicada a obsessão em poder escrever um roteiro e fazer parte de um projeto que o trouxesse, novamente, ao coração da floresta. E, claro, porque ele defende com tanto otimismo e crença na possibilidade de que ainda iremos evoluir como humanidade e compreender a simples questão da necessidade de preservar.
Convite
Com este elenco de peso, dedicado, divertido, consciente, apaixonado por seus personagens, pelo Brasil e principalmente pela história da minissérie, nós desejos a vocês uma experiência única.
Que “O Hóspede Americano” possa emergir seu espírito aventureiro, consciente, político, humano e curioso!
Já disponível na HBO MAX, HBO é uma obra que, sem sombra de dúvidas, vale a pena ser conferida.
Assista ao trailer de “O Hóspede Americano”:
Por Pabline Furst (@furstpabline_)
Coletiva de Imprensa por Bele Machado
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