Quando pensamos que as demandas sociais que surgem pelos direitos e deveres que cada indivíduo possui enquanto cidadão participante de uma sociedade, é uma coisa oriunda da modernidade; cometemos um grande erro.
E vou além, fazendo um recorte bem específico, falando sobre o direito das mulheres. Sim! Nossas batalhas e conquistas enquanto pessoa que também participa da sociedade e – por lei – deve ter todos os seus direitos garantidos.
A luta pelo reconhecimento em fazermos parte da sociedade de forma digna, com equidade e acima de tudo com respeito, não se iniciou em 1791 com Olímpia de Gouges (francesa e revolucionária) que escreveu um proclame aos direitos das mulheres: “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”.
Essa batalha vem de anos remotos, desde os primórdios em que éramos consideradas amaldiçoadas por praticar magia e queimadas nas fogueiras. Ou ainda antes, quando as mulheres de Atenas não eram cidadãs gregas. Não tinham direito à absolutamente nada que estivesse fora do espaço físico do lar.
Não diferente das mulheres de Atenas, Marguerite de Carrouges é uma corajosa, inabalável, inquebrantável e determinada mulher que vivenciou o período da Guerra dos Cem Anos. Sua história traz uma comovente, bruta e intensa história de uma mulher que enfrenta todo patriarcado, Clero, nobreza e ignorância para defender, não só sua honra, mas o direito de ter reconhecido o crime cometido contra sua dignidade.
É esta história incrível e emocionante, que nos faz ter raiva, empatia, e demais sentimentos que Ridley Scott dirigiu tão bem.
“O Último Duelo – The Last Duel (em original)” é uma obra cinematográfica adaptada do romance literário baseado em fatos históricos, chamado: “The Last Duel: A True Story Of Crime, Scandal, and Trial by Combat in Medieval France (“O último duelo: uma verdadeira história de julgamento por combate em franco medievale” tradução)” do autor Eric Jager.
O roteiro e adaptação ficou por conta do trio: Nicole Holofcener, Bem Affleck e Matt Damon. E, arrisco dizer que, por terem os atores participado de parte tão importante, como escrever o roteiro; possa ter influenciado positivamente no envolvimento e entrega de ambos a seus personagens.
A direção, como dito acima, ficou por conta de Ridley Scott que, claramente, não decepciona. Se tem um diretor que sabe comandar muito bem um filme épico, é Scott. Gladiador não me deixa mentir, não é mesmo?! Pois bem, o diretor não decepcionou.
Importantes observações
O título do filme se chama “O Último Duelo”, fazendo uma referência à um duelo de combate direto entre dois indivíduos que se propõe a fazê-lo até que um caia morto.
Tal julgamento por combate fora um método de apreciação praticado na Idade Média. Deste modo era possível testar de forma pública, como dois juramentos opostos apresentados por dois indivíduos poderiam tornar-se plausível.
Como assim? Uma vez que havia duas narrativas apresentadas por dois oponentes e não havia nenhuma testemunha daquela narrativa apresentada, era necessário que eles apresentassem à Deus suas narrativas. Apenas Ele poderia decidir quem estava dizendo a verdade. Para chegar à essa verdade, eles duelavam até a morte diante de Deus. Que, naturalmente, apresentava o homem verdadeiro salvando-o de uma morte não necessária.
Aqui, temos um elemento crucial, a lei dos homens obedecendo a lei divina. E quando dizemos da lei dos homens, é literal. Ela beneficia e protege apenas estes. Naturalmente as mulheres estão excluídas da lei.
Outra importante observação e, daí, o nome do título original na obra literária, é que: na França daquela época, tal prática de julgamento já não era comum. Poder-se-ia até recorrer à tal, mas ela já era considera um tanto obsoleta. Até porque, já se existia uma espécie de parlamento que acolhia as acusações para que pudesse determinar uma pena para os acusados.
É importante ressaltarmos, também, o período em que a história acontece, Guerra Dos Cem Anos. Historicamente é um dos grandes conflitos ocorridos na Idade Média entre duas potências dominantes da Europa (na época): França e Inglaterra. Movido por questões políticas e econômicas, o conflito fora dividido em quatro épocas e durou bem mais do que um século. Seu final se deu com a vitória do exército francês, consolidando assim o regime monárquico na França.
A trama do filme se passa bem no meio do ocorrido (terceiro período da Guerra dos Cem Anos) a meados de 1386. Neste passo a disputa era interna e externa, a Inglaterra tinha o rei Ricardo II em seu trono que, imprudentemente, entrou em confronto direto contra os nobres ingleses, levando-os (os nobres) a ajudar na ascensão de Henrique V ao trono.
Enquanto isto, na França, o confronto vinha após a morte de Carlos V, seu sucessor (uma criança, muitíssimo importante ressaltar), o filho, Carlos VI não tinha qualquer condição estrutural – psicológico e ou política – de assumir o trono. Um garoto de 11 anos não poderia governar uma guerra civil de proporções tamanha.
Tendo em vista toda base descrita acima, há de se esperar muitas cenas de guerra nas telonas, certo?! Assim sendo, podemos dar sequência à nossa crítica.
Enredo de O Último Duelo
A trama origina-se em janeiro de 1368, quando a protagonista, Marguerite de Carrouges, declara ter sofrido violência sexual. Segundo a mulher, Jacques Le Gris, um escudeiro e ex-grande amigo de seu marido, Sir Jean de Carrouges, lhe estuprara. Um ato de completa covardia.
A trama origina-se em janeiro de 1368, quando a protagonista, Marguerite de Carrouges, declara ter sofrido violência sexual. Segundo a mulher, Jacques Le Gris, um escudeiro e ex-grande amigo de seu marido, Sir Jean de Carrouges, lhe estuprara. Um ato de completa covardia.
Sir Jean de Carrouges, que ficara a postos da situação por narrativa da própria Marguerite, recorre à justiça levando o caso ao tribunal, mas, sem sucesso. O caso fora dispensado pois o conde responsável por analisar e julgá-lo era amigo de Le Gris. Assim sendo, o homem não credibiliza a história de Marguerite e ainda tem a indecência de dizer que “ela estava sonhando”. Le Gris jamais seria capaz de tal ato hostil.
Ao ter seu pedido negado, Jean viaja à Paris e apela diretamente a Carlos VI. Seu apelo fora a evocação do decreto real de 1306”, decreto este que se baseava em antigos precedentes, suficientes, para permitir-lhe exigir o duelo por combate. Entretanto, estes duelos eram extremamente raros à esta altura da Era. Ainda assim, por diversão e ou imprudência infantil, Carlos VI (Alex Lawther) permitiu-lhe apelar à tal decreto.
O desafio ao qual Carrouges invocou, levou a uma investigação (não minuciosa) do Parlamento. Este, por sua vez, acaso não conseguisse alçar um veredicto levaria o caso ao duelo. E, como era de se esperar, uma vez que o parlamento era composto por machistas, patriarcas e cleros; não chegaram a um veredicto. Afinal, Marguerite estava a mentir, delirar e profanar Le Gris, tão nobre pessoa.
O Desenrolar da Trama
O filme apresenta um longa dividido em capítulos. Ou seja, a história é uma só, mas as narrativas são várias. Cada ponto de vista traz consigo um detalhe, verdade ou mentira que tecem a teia da História.
Confesso a vocês que este tipo de narrativa é, para mim, espetacular. Afinal de contas, você pode ter a noção de todas as óticas. Apenas você e cada um dos protagonistas quase que como uma confissão, um segredo.
Esta inteligente jogada do trio de escritores (exaltado na introdução de nosso texto) nos envolve em praticamente três horas de filme, levando-nos a sentir emoção, raiva, ranço, compaixão. Tudo, tudo ao mesmo tempo. Claro, não podemos deixar de lado o brilhantismo de Ridley em dirigir estas intensas horas.
Quando digo intensas, estão longes de serem massivas, são intensas em sua qualidade. Na disposição das cenas, na perfeição da locação, na impecabilidade da fotografia, no impacto da trilha sonora. Na atuação genuína de cada ator e atriz. Do cuidado com o figurino ao jogo de luz e sombras, cada mínimo detalhe prende a nossa atenção do início ao fim!
Fotografia, Trilha Sonora, Figurino
De tirar o fôlego, a fotografia do filme não pode ser mais bem definida. Além de completamente bela, teve a preocupação de trazer para o mais original, possível, a Europa de 1386. Belos e verdejantes campos afastados da cidade, suntuosas propriedades que emanavam a riqueza dos nobres. Bem como, os pequenos casebres, os esgotos à céu aberto de Paris, a plebe em mercados sujos, desorganizados e expostos às mais diversas possibilidades de doenças.
Harry Gregson-Williams dá o tom com a trilha sonora sensacional. Acompanhando desde as épicas batalhas nos campos, aos festejos e ensejos da nobreza, que nada faz e tudo celebra.
Não posso deixar de lado o figurino que traduz bem a época, seja nas cores (que vemos muito presentes nas obras de artes que retratam a Europa da Guerra dos Cem Anos), nos tecidos, ou até mesmos nos acessórios. Tudo é muito bem colocado e muito bem harmonizado. Da roupa das mulheres à roupa dos homens, principalmente os detalhes das armaduras.
Personagens
Marguerite de Carrouges (Jodie Comer) Interpretada pela brilhante Jodie Comer, que vem entregando maravilhosos papeis em filmes e séries, a personagem de Marguerite é uma mulher nobre cuja origem é de uma família normanda rica. Marguerite era uma mulher inteligente, possuía fluência em vários idiomas, era amante da literatura e uma belíssima jovem de espírito livre muito próxima ao pai.
O pai, Robert de Thibouville (Nathaniel Parker) é um nobre considerado traidor do rei francês. O que, por picuinhas sociais, acaba por manchar o nome da filha, também. Ou, no mínimo, influenciar nos ocorridos futuros. A jovem teve sua mão concedida à Jean de Carrouges, com quem viveu um terrível casamento – tanto pela brutalidade do homem como pela maldade da sogra.
Jean de Carrouges (Matt Damon) Relevante cavaleiro que governou as terras em Normandia (a noroeste da França) como um vassalo do fanfarrão conde Pierre d’Alençon (Ben Affleck). Filho de pais nobres e reconhecidos pela corte, Jean desempenhou importante papel no combate e vitórias das batalhas da França contra Inglaterra.
De personalidade explosiva, o combatente era fiel à França, ao trono, indo à campo (prudentemente ou não) com o inseparável lema: “pelo Rei”. Considerado um homem bruto, violento, obcecado pela guerra, pouco inteligente e totalmente movido pelo páthos, é um personagem que a gente fica na dúvida, se tem simpatia ou se tem raiva das atitudes.
Matt Damon fez um bom trabalho, seu Jean de Carrouges é um típico cavaleiro machista, ciumento, ignorante e obsessivo que quer sua honra reconhecida acima de tudo.
Jacques Le Gris (Adam Driver) Inteligente, polido, estudado, galã, cavalheiro da corte e puxa saco oficial de Pierre d’Alençon, Jacques Le Gris é o perfeito visionário, que lança mão de uma oportunidade ímpar para fazer sua fortuna, fama, nome, honra e passar por cima de quem quer que fosse necessário. Independente dos laços que romperia ou não.
Filho de um escudeiro fez sua fortuna às custas de muita rixa com seu ex-amigo, Jean de Carrouges. Roubando-lhe terras, títulos, reconhecimento, fazendo parte da corte que o humilhava.
Não bastasse conquistar o favoritismo de Pierre, coleguismo dos parlamentares, a atração e atenção das mulheres (casadas ou solteiras), apreciar a fanfarra da corte; ele não tem quaisquer escrúpulos ao invadir a propriedade de Marguerite e a estuprar como se fosse a ação mais normal e corriqueira possível.
INÍCIO, MEIO E FIM
Agora que já estamos familiarizados com os personagens central da trama, podemos dizer um pouco melhor sobre ela e sobre como se desenvolve.
Acima, eu havia dito que o filme é dividido em capítulos, cada um conta a história pelo ponto de vista dos principais envolvidos: Jean, Le Gris e, por fim, Marguerite. Começando com cena final, perpassando por toda história até aquele ápice e retomando a mesma; o percurso é riquíssimo.
Riquíssimo em detalhes intrínsecos que nos joga em uma montanha russa de sentimentos. Da possibilidade de marido amoroso, compreensivo, apaixonado, que só busca lutar por aquilo que a mulher tem por direito (seja o dote ou a honra); chegamos a um homem ogro.
E sim, estou a dizer do próprio Jean, que se vê como um ser determinado, guerreiro (e neste aspecto ele é mesmo, um homem forjado na guerra), detentor da razão, charmoso, provedor responsável e inteligente, marido amoroso e protetor, filho leal e destemido. Homem injustiçado e roubado. Alguns aspectos podemos dizer que correspondem a ele sim, mas outros tantos são apenas uma visão completamente distorcida daquilo que ele, realmente, é.
Marguerite, por sua vez, é uma mulher corajosa, inteligente, que para poder cumprir com as obrigações do peso de ser mulher naquela sociedade; casa-se com este homem. Afasta-se de seu pai e é enclausurada em uma casa fria, preenchida pelo amargor da existência vazia de sua sogra.
Pela visão dela compreendemos quem, realmente, Jean é, bem como toda dor e silêncio ao qual é submetida. Obrigada a ter relações invasivas e nada prazerosas com seu marido (tanto relações sexuais como relação de convivência), vê-se encurralada dentro do peso de dar um herdeiro à casa e da ausência dessa gravidez por tantos anos.
Obrigada a estar sempre ao lado de uma dama de companhia, uma vez que Jean a mantinha presa dentro de casa, por obsessão e ciúmes, Alicia era sua única companhia. Muito raramente recebia a visita de uma donzela que considerava amiga de longa data.
Em uma das viagens para o campo de batalha, Jean encube a mãe à não deixar Marguerite sozinha sob nenhuma hipótese. Nos dias que se sucederam da ausência do homem, Marguerite pôde respirar, sair de seu presídio, colocar em prática seus conhecimentos e envolver-se com as economias da casa, com os próprios servos e levar a propriedade à progredir.
Ainda que a mãe de Jean soubesse da obrigação em não deixar a nora sozinha, a mulher desobedece às ordens de seu filho e leva toda criadagem junto a ela para uma excursão fora da cidade. Neste fatídico dia, Le Gris invade a propriedade dos Carrouges cometendo o ato odioso e criminoso, o estupro de Marguerite.
O retorno de Jean ao lar foi a deixa para que ela pudesse contar-lhe o ocorrido, embora tendo sido desacreditada pelo marido, ela mantém-se firme quanto à declaração e exige que Le Gris pague por aquilo que fez a ela. De forma não convencional e muito humilhante, o homem aceita apoiá-la, afinal de contas, uma mulher estuprada por um homem que não seu marido, era uma desonra AO MARIDO e não a ela.
Assim o sendo, ele (Jean) poderia recorrer a tal desonra e recuperá-la. Recuperar seu nome, sua dignidade, pouco importando-se com sua mulher.
Levando o caso à Carlos VI, como dito acima, ele conquista a audiência parlamentar, mas, sem provas contundentes, após um longo e humilhante depoimento ao qual Marguerite fora submetida, depoimento este que nos dá vontade de invadir a tela e brigar com os machistas toscos envolvidos. O caso ganha o direito ao duelo por combate até a morte.
Combate este que, caso Jean de Carrouges viesse a perder, teria como sequela o desacato à Marguerite obrigando-a a se despir, amarrar ela a uma pira e ser queimada em praça pública. O que, obviamente, nos leva a compreender que todo aquele alvoroço de “defender a honra da minha mulher apoiando-a”, não passava de um teatrinho baixo nível para que ele se vingasse de Le Gris.
Adam Driver nos desperta muita raiva, o que nos leva a parabenizá-lo por sua atuação. Negando o crime, confessando à Deus seus pecados e confabulando para livrar-se da acusação; acaba vendo-se obrigado a levar as consequências até o duelo para provar sua “inocência” e honra. O famoso cidadão de bem.
E, se você não quer spoiler, veja o filme. Pois, serei muito boazinha e não darei nenhum spoiler sobre o fim da trama. Digo, apenas, que vale a pena cada freme, cada segunda, cada close, cada troca de gotículas de sangue entre os combatentes. Lembre-se, estamos falando de uma direção de câmera e filme por Ridley Scott!
CONCLUSÃO – O brilhantismo de O Último Duelo
O Último Duelo tem um roteiro muito bem amarrado, a adaptação da literatura não deixa à desejar, um trabalho em trio muito bem feito. A direção de Ridley é tão boa quanto há de se estimar, com cenas de guerra incríveis em cortes e poses específicas que levam nossos suspiros, está muito bem entregue.
A trilha sonora, que ficou por conta de Harry Gregson-Williams (Metal Gear, The Chronicle of Narnia, X-Men Origins> Wolverine, Déà-Vu) é maravilhoso, sabendo o compasse perfeito para acompanhar os personagens e os ápices acontecidos no longa. Aquela trilha que já faz “o coração” tamborilar junto à harmonia das cordas.
A atuação de Matt Damon é um presente à obra, entregue ao seu personagem ele aproxima o público da história fazendo-nos ter compaixão por determinadas situações ridículas e humilhantes às quais ele é colocado, bem como a ter vontade de sacudir-lhe o esqueleto e lhe estapear a face – figurativamente dizendo, claro. Para poder despertá-lo em relação às escolhas ignorantes e às ações que são movidas muito mais pelo páthos do que pela razão e o leva à decisões/escolhas completamente duvidosas.
Sua brutalidade, machismo, nos causa raiva. Raiva pela forma grotesca com a qual ele trata Marguerite, usando-a como um troféu, um título à levá-lo de formas – inimagináveis e inaceitáveis – de volta ao reconhecimento de sua glória pela nobreza e população.
Adam Driver também não fica para trás, com todo charme e inteligência de seu personagem, conseguiu organizar muito bem a personalidade de Le Gris, com certeza desperta mais raiva do que simpatia. Astuto, ambicioso e principalmente inescrupuloso, tem tudo que quer sem importar-se com a falta de ética que isto o leva. Escondendo-se atrás de um pretexto mentiroso e fantasioso, vê-se no direito de possuir o corpo de outrem porque acredita que seus desejos devem ser saciados a tudo gosto.
Ninguém pode negar-lhe nada, muito menos uma mulher. Quem pensa ela ser para dizer-lhe não? Ainda mais casada com um homem tão tosco e desprovido de beleza como Jean de Carrouges?
E, é exatamente sobre isto. Sobre esta sociedade completamente patriarcal, machista, embebida em uma moral distorcida, cuja mulher não passa de um objeto que tem de estar disponível para quem a desejar. Independente de ser ela casada ou não. A objetificação da mulher é exposta em diversos contextos e cenas do filme, bem como o poder do homem, principalmente do nobre, é irrevogável e inesgotável.
Uma história narrada há tantos anos é tão atual que nos espanta. Marguerite foi exposta a um parlamento que a destratou, que fez pouco caso de sua história, que a colocou como mentirosa, que desconfiou de tudo que ela disse, que teve a indelicadeza de dizer que ela estava sonhando. Usou a declaração de uma falsa amiga para tornar ridículo aquilo que ela estava a declarar.
Quantas de nós – porque devemos pensar sempre como uma por todas – não passou por essa situação? De ser desacreditada naquilo que diz? De ser menosprezada? Diminuída? Independente do que estava a declarar? Marguerite é mais uma das grandes mulheres na História que foi até o fim por aquilo que defendia. Pelo direito de ser respeitada, de ver seu agressor pagar legalmente pelo crime cometido.
Por fim, o filme é uma obra prima. Proporciona a nós uma discussão minuciosa a respeito, inclusive das dubiedades que deixa gerar quando mostra o ponto-de-vista dos três envolvidos. Com diálogos e cenas fortes, que entregam nas entrelinhas o peso de uma questão séria, vale a pena cada minuto, hora e inquietação pelo desfecho. Do início ao fim, surpreendeu-me positivamente.
Não deixe de conferir esta incrível obra e de partilhar conosco suas impressões e sentimentos a respeito.
Ficha técnica
Roteiro: Matt Damon, Ben Affleck, Nicole Holofcener
Direção: Ridley Scott
Produção: Ridley Scott, Matt Damon, Ben Affleck, Nicole Holofcener, Jennifer Fox, Kevin J. Walsh
Elenco: Jodie Comer, Matt Damon, Adam Driver, Ben Affleck, Harriet Walte, Nathaniel Parker, Alex Lawther entre outros.
Distribuído por: Walt Disney Studios, Motion Pictures (United Kingdom), 20th Century Studios (United States)
Assista ao trailer de O Último Duelo:
Por Pabline Furst (@furstpabline_)
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