King’s Man: A Origem é uma tentativa de prelúdio dos outros dois longas da série que já circulam no universo cinematográfico há alguns anos.
O filme tenta trazer fatos históricos com uma pitada generosa de ficção e a história por trás da origem da Kingsman.
Pode não atrair todos os gostos e ganhar pouca bilheteria, uma vez que entra em competição com grandes bilheterias vigentes no cinema nestas férias de janeiro, mas, acredite, aos fãs da trilogia, não é decepcionante.
Se vocês já estão habituados à direção de Matthew Vaugh (“Kingsman: Serviço Secreto” – 2014 e “Kingsman: O Círculo Dourado” – 2017) irão compreender as linhas e traços utilizados pelo diretor.
Além do mais, e irei colocar minhas considerações maiores na conclusão, trata-se do que originou a agência de espiões, não precisamente o longa inteiro deve ou precisa estar conectado a espionagens e afins; como se tem nos demais filmes da franquia.
SINOPSE
Quando os criminosos mais cruéis da história se reúnem para tramar uma guerra e roubar grande quantidade de dinheiro, um homem deve correr contra o tempo para impedir que estes tiranos exterminem milhões de pessoas e destruam a humanidade.
Descubra as raízes da primeira agência de inteligência independente em ‘King’s Man: A Origem’, dirigido por Matthew Vaughn.
Ação, aventura, drama, comédia delicada, violência, história e muita imaginação, banham a trama que busca puxar a atenção do espectador durante todo momento.
AMBIENTAÇÃO
O filme se passa no princípio do século XX, a meados da Primeira Guerra Mundial, assim sendo, o longa tenta trazer um pouco dos personagens históricos que participaram deste conflito – alguns com nomes e fatos.
Claramente, nem tudo pode ser fidedigno à história, o que carrega o filme com bastante ficção e possíveis causas que desencadearam a Primeira Guerra, talvez, não diretamente, mas abriram portas para os demais tiranos surgissem na Inglaterra e Alemanha da época.
Talvez, aqui, podemos encontrar o incômodo que o filme venha a gerar nos espectadores que buscam só mais um filme dentro da franquia por completo.
A ideia de escrever o roteiro contextualizando a história a preâmbulos da Primeira Guerra, acaba por reduzir um pouco o público, que precisa ter um conhecimento prévio para apreciar a ironia, sarcasmo e até sátira (leve) que a obra propõe.
É uma obra comercial, sim, porém pede a nós um pouco mais de atenção e paciência para o contexto, o que leve muitos a dizer que a obra se perde um pouco.
A cena pós-crédito do filme revela um baita spoiller do que viria a acontecer na história da humanidade e, quem sabe, um novo filme completamente mergulhado naquele contexto futuro. Como fã, eu diria, que não seria nada mal. Agradeceria, aliás. Mas, vamos voltar à crítica!
KINGSMAN A ORIGEM – FALANDO UM POUCO SOBRE O TÍTULO E SUA DISTÂNCIA
Aproveitando o título para poder brincar um pouco com as palavras, vou tentar dizer um pouco, porém evitando spoilers, como se originou a tão famosa agência de espionagem.
Penso eu que, grande maioria dos espectadores, estimavam algo cem por cento dentro da trama de espionagem e afins. Mas, se estamos a dizer de uma razão desencadeadora, não quer dizer que ela esteja completamente conectada com o ocorrido final. Ou ela seja uma propulsão.
Como assim? A propulsão seria uma força que dá impulso direto na coisa, já uma razão desencadeadora pode ser um motivo que – ao longo do tempo – unindo-se a outros atos e ocorrências levará a um fim – um por vir (que não necessariamente foi pré-determinado).
Não é porque a agência é especialidade em espionagem, pancadaria e afins, que o “start” para sua existência tenha surgido daí.
Ao longo da trama percebemos que seu fundador, em nenhum momento, tinha como horizonte chegar à Kingsman como ela é hoje. Muito pelo contrário. Com uma consciência histórica e social ele tentar caminhar no sentido contrário ao sentido que sua família veio construindo a fortuna ao longo do tempo.
A morte de sua esposa, assassinada injustamente, lhe acende um princípio empático quanto ao humano e um desejo de fazer diferente. De permanecer a ajudar e ir além, caso preciso fosse; mas, acima de tudo, mantendo a pacificação entre os ímpares de qualquer situação.
O que, a meu ver particular, é um passo muito importante para evolução pessoal. Mais ainda, conseguir compreender quando você deve passar por cima deste seu princípio para salvar milhões, é ainda mais forte e importante.
KING’S MAN: A ORIGEM – ONDE REALMENTE SE INICIA A IDEIA DA AGÊNCIA
Em seu desenrolar para o fim da trama, é neste instante, que fica claro, evidente a origem da agência.
Uma vez que seu fundador, Duque de Oxford (Ralph Fiennes) consegue perceber a importância da repercussão de toda ação junto aos seus, ele vê-se não só implicado a dar ao mundo uma chance de se proteger como sente que alí reside a razão para sua existência.
Compreensível depois de tanta dor e perda. Não lhe cabia o coitadismo, ficar a perecer ou coisas do gênero; cabia-lhe agir! Honrar a promessa feita à esposa, mesmo que não diretamente e, acima de tudo, honrar a morte de seu filho.
A agência, por tanto, surge quando ele reúne seus amigos para que possam ser fundadores da Kingsman, como um com um peculiar nome da história favorita de seu eterno e amado Conrad (Harris Dickinson).
KING’SMAN A ORIGEM – DOIS ATOS EM UM
Se pudéssemos trazer para o palco do Palácio das Artes (ou demais grandiosos palcos de teatro), eu diria que Kingsman é uma ópera – sem coral – com três atos. Entretanto, apresenta-nos apenas dois.
Mas, por que estou a comparar desta maneira? Porque, de fato, é como se o filme fosse dividido em dois atos que pode caber um terceiro.
Talvez não tenha tido este terceiro por questão de tempo, exigiria uma outra pegada e mais de um filme. Famoso: parte 1, parte 2. Claro, não seria o desejo do diretor.
Até porque, se queres dizer da origem de algo sem colocar fim naquela franquia, não se pode fazer duas partes de um mesmo filme, certo? Afinal, soa como fim de uma era. Temos aí o exemplo de Harry Potter e Avengers.
Retomando a ideia de Ato I e Ato II, vemos claramente como isso pode desenrolar pelo decorrer da trama.
[ALERTA DE SPOILLER]
Primeiro Ato consiste: de a morte da esposa até a morte de seu filho, onde neste tempo cinegráfico temos o constante embate de pai e filho. O Duque de Oxford deseja manter sua promessa a qualquer custo, que seria manter o filho vivo e longe das guerras. Ao passo que Conrad, seu único filho, busca lutar em nome da pátria independente da vontade de seu pai.
E, assim, mesmo com a desaprovação do pai, ele o faz! Vai para a fronte de Guerra, veste-se e assume posição e morre, literalmente, para salvar a humanidade.
Conrad faz honras à memória de sua mãe (ainda que indiretamente), mulher íntegra que sempre buscou o melhor para aqueles que não tinham condições. Que, até seu último suspiro, só desejar ajudar os demais a sair das condições desumanas que enfrentavam.
Apesar de o ato heroico e formidável, o Duque não queria reconhecer a necessidade de fazer daquilo valer a pena, porque seu filho havia morrido. E, claro, porque também sua consciência o julgava, fazendo-o perecer em profunda dor e amargura ao desonrar a promessa feita à esposa.
PERSONAGENS
Alguns personagens presentes na trama, são essenciais à sincronia do filme e desenvolvimento dele.
Os principais, podemos assim citar, são Shola (Djimon Hounsou) e Polly (Gemma Arterton). Ambos conduzem a trama muitíssimo bem, são como membros da família e, se bobear, sabem e compreendem muito melhor Conrad e o Duque do que eles mesmos.
A dinâmica e presença dos dois personagens, Shola e Polly são como a pedra bruta da ideia de origem da Kingsman, que passa a ser lapidada ao longo da trama. E, diga-se de passagem, que maravilhosa harmonia os atores possuem. Trouxe muita organicidade aos personagens.
General Kitchener (Charles Dance), personagem que foi inspirado em fatos espelhado no Conde Kitchener (Secretário do Estado durante a Primeira Guerra Mundial) que na trama, ajuda o Duque a lidar com os problemas políticos da aristocracia na época. Morton (Matthew Goode), fiel companheiro do General, Rasputin (Rhys Ifans), mago de um dos tiranos, Erik Jan Hanussen (Daniel Brühl), Lenin (August Diehl) e Mata Hari (Valerie Pachner), trio destaque que compõe os demais vilões do filme.
A melhor parte, na minha opinião, é o fato de você quase não conseguir perceber que Tom Hollander faz o trio de tiranos da Europa. Rei Geroge, Kaiser Wilhelm e Tsar Nicholas.
UM POUCO DO ROTEIRO DE KING’S MAN: A ORIGEM
Adaptado dos quadrinhos, escrito por Karl Gajdusek e o próprio diretor Matthew Vaughn, o escrito tenta colocar todos os personagens dentro do contexto da trama.
E, parando para analisar de forma genérica e de fora, embora embaralhado, todos conseguem seu lugar ao sol e faz funcionar a ficção de forma bacana.
Talvez, se tivesse um maior tempo, eles soubessem desenvolver o que eu chamei de Ato I e Ato II, sem pesar demais ou deixar poucas lacunas. Entretanto, a meu ver, a ideia foi boa.
Os diálogos são interessantes e afastam a trama de uma ideia machista ou sexualizada, em alguns pontos.
Por que eu ressalto estes dois pontos? Porque, em uma história que se passa dentro de uma Inglaterra do princípio do século XX meados da Primeira Guerra Mundial, temos uma sociedade banhada de preconceitos étnicos, de gênero e completamente mergulhada em um patriarcalismo machista sensível.
O protagonismo de Polly é essencial para quebrar esse preconceito, a forma como a personagem é construída (e isso se deve ao brilhantismo de Gemma Arterton) com tamanha liberdade de ir e vir, construir conexões e o poder atribuído à ela!
Polly organiza, pesquisa e movimento o grupo. Não como atribuições de uma dona de casa ou governanta, mas como uma mulher inteligente, empoderada que é respeitada pelos homens que a acompanham em suas “missões”.
Outro ponto importante do roteiro é a maneira como se coloca a relação do Duque e Conrad, um amor inato e intenso entre pai e filho que, em nenhum momento, tem qualquer resquício de masculinidade frágil ou sexualização.
Destaco, nesta linha, também, a relação de Duque, Conrad e Shola. Há também esta mesma conexão, sem excluir Shola à um mero serviçal o tratando dentro do amor de uma pessoa que é parte deles, da família. Depois do pai e da mãe, a pessoa mais importante para Conrad.
DIREÇÃO DA OBRA
Como sabemos, Matthew já dirigiu os outros dois longas da trilogia então, já nos dá um norte de como será a história.
Muitas cenas de luta, belíssima fotografia, homens belíssimos em ternos, fraques e até mesmo soldados em kilts. Mais uma ressalva para jogar para longe a masculinidade frágil.
A novidade, aqui, é que as cenas de luta não são travadas com armas tecnológicas de ponta ou coisas do gênero, mas, com espadas e um pouco de corpo-a-corpo. Claro, pelo contexto da época.
Entretanto, não deixam nada a desejar, as coreografias de luta são boas, o nível que já conhecemos, o lance das câmeras que seguem os movimentos dos personagens e dos objetos em cena é outro ponto alto da direção de Matthew.
A liberdade que os atores têm, ajuda muito na complementação da trama, dizendo em especial da Gemma que, visivelmente, construiu uma personagem maravilhosa. A atriz se demonstrou muito segura naquilo que fazia, reluzente como em vários de seus papéis. Admirável!
Outro destaque importantíssimo e digno é a fotografia! Se tem algo que Matthew sabe escolher muito bem, é a fotografia de suas locações. Belíssima, encantadora e de tirar nosso fôlego, a vontade é listar todos para ir conhecer.
Figurinos e cenários não ficam para trás, com enorme parabenização aos responsáveis. Cenários que conseguiram retratar bem a época histórica, assim como as cores, os figurinos, a trilha sonora. Que belíssima trilha sonora.
AINDA DENTRO DO UNIVERSO MIRABOLANTE DE KING’S MAN A ORIGEM
Quando falo do universo mirabolante é para falar sobre duas questões levantadas no filme, que confronta fatos. O personagem de Rasputin é um libertário sexual, que não se envolve apenas com mulheres, mas também, com homens. Ou melhor, com garotos.
E, possivelmente, este gosto peculiar que podemos fazer uma leitura tanto quanto pedófila, venha a ser um problema do ponto de vista dos espectadores. Não tenho certeza de qual ideia os roteiristas quiseram trazer.
Problematizar a situação? Colocar a situação por que era algo que acontecia nas cortes da época? Trazer o assunto para tentar desenvolver ou só satirizar? Criticar? Seja qual for a ideia central dos criadores, há uma dubiedade nisto.
Deixo as reflexões aqui para que vocês possam pensar a respeito, sem a contaminação das minhas ideias e ou considerações.
[ALERTA DE SPOILLER]
Uma das cenas que explicita isso é a cena em que o Duque de Oxford tinha planos de enviar o filho como isca para envenenar Rasputin – uma vez que o Mago tinha afeição por garotos jovens e isso era sabido por todos.
Com tudo, todo plano é alterado porque Rasputin desconfia da situação. Sagaz o Mago resolve inverter ao seu favor e convida o Duque para estar em sua presença.
Sem pudores, a cena se torna um grande linguajar sexual entre dois homens cujos objetivos desaguam no mesmo fim, a morte de ambos.
O Duque de Oxford, vê-se dominado e completamente entregue aos toques de Rasputin, que utiliza de seu tato e língua para curar o homem que tinha uma cicatriz significativa em uma das pernas.
Ao passo que Shola e Conrad ouviam tudo por detrás da porta sem compreenderem o que se passava no interior do ambiente. Outro ponto curioso é que, não há qualquer desconforto dos quatro homens quando Sholan e Corand entram na sala.
Às demais ideias propostas no roteiro, esta, pela minha ótica, é a de destaque.
CONCLUSÃO
Não estou, aqui, a ser contraditória com o que eu disse lá em cima, ao ressaltar a personagem Polly ou o amor sem contexto de masculinidade frágil entre Conrad e o Duque. O que não posso, é ignorar algumas outras questões que ficam.
À parte os elogios feitos ao longo desta crítica, fica uma outra questão e, talvez seja este o desejo do filme em si. Uma interminável metáfora do princípio do século XX, trazendo diversas questões étnicas, de gênero, controversa com a História e satirizando muitos contextos da época.
Trago, novamente, a questão de o filme ser comercial. Dispensando, então, uma profundidade na construção dos primórdios da “sociedade moderna”. Por um lado, compreendo a questão, deixa de ganhar forte atenção, bilheteria, por outro, penso que deveriam arriscar algo mais fidedigno à História.
Mas, sigamos. Sigamos aguardando que as sequências possam trazer mais destaques à personagens que ficaram à margem, mais destaque e fidelidade à História, que atribua menos caricatura e que dê espaço para reflexão mais profunda.
Talvez com diálogos mais profundos e extensão responsável dos fatos colocados.
No geral, eu apreciei a trama, e iria ao cinema para as sequências, bem como pagaria para assistir ao filme.
Tem potencial, tem elenco, tem carisma e tem deixas para continuações.
Ficha Técnica:
Roteiro: Matthew Vaughn e Karl Gajdusek
Direção: Matthew Vaughn
Elenco: Gemma Arterton, Ralph Fiennes, Djimon Hounsou, Daniel Brühl, Aaron Johnson, Stanley Tucci, Rhys Ifans, Colin Firth, Tom Hollander, Matthew Goode entre outros.
Companhia(s) produtora(s): Marv Films e 20th Century Studios
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures e Fórum Hungary
TRAILER:
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