Impossível comentar um documentário sem entender primeiro suas intenções.
“Transversais” nasce contra a vontade de Bolsonaro, em um país que mais mata travestis e transexuais no mundo, em anos tão marcados pela intolerância.
Por tudo isso, já é – em si mesmo – vitória!
Na última semana, assistimos ao documentário e foi possível acompanhar a professora Érikah, a funcionária pública Samilla, o paramédico Caio, o pesquisador Kaio Lemos e Mara, que é jornalista e mãe.
Os cinco têm origens, formações, classes e contextos familiares bem diferentes, mas todos podem ser unidos pelo fato de terem suas vidas atravessadas pela transexualidade.
E nesse âmbito, em “Transversais“, temos aqui mais um acerto. O diretor Emerson Maranhão opta por mostrar exemplos mais “seguros”.
Sabemos que uma vivência transexual, qualquer que seja, é, por si só, uma resistência.
Mesmo assim, os personagens (reais) daqui, são os mais confortáveis. Sente-se que não há desejo, aqui, de contra-atacar. Mas sim, de convidar para um diálogo.
É difícil convidar para um diálogo aos gritos, e nesse sentido, “Transversais” é vencedor.
Ao escolher uma abordagem mais didática, com personagens super humanizados e depoimentos de familiares relacionáveis, o longa se apresenta com gentileza.
É um trabalho importante não apenas para visibilizar tantas vidas que estão representadas, mas para entrar na casa das pessoas como um café quentinho e um convite para um debate saudável.
Debate este que se torna um combate ativo na desconstrução de muitos preconceitos.
“É um desafio muito grande abrir a intimidade, mas aceitei porque acho que a minha vida não é só minha. E se for só minha, não serve. Eu preciso compartilhar minhas vitórias e inspirar outras pessoas.”
Samilla Marques Aires.
Crítica por: Augusto Alvarenga
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