O Homem do Norte é, assim como as célebres obras de Robert Eggers, impecável!
Pode dizer, seguramente, que superou as expectativas que eu tinha a respeito deste filme. Eu estimava que seria uma direção bem executada, um roteiro bem trabalhado, mas agradeço aos envolvidos, por terem me surpreendido!
Para quem gosta de mitologia nórdica e até mesmo, da história do povo nórdico, sabemos que seus antepassados eram intimamente ligados ao culto dos deuses.
O paganismo presente na sociedade da época, era imprescindível à manutenção daquela sociedade. Da vida em grupo, dos costumes, das decisões a serem tomadas e suas consequências.
Como uma admiradora de tal cultura de tal povo, previamente deseja-se em filmes que tenha como tema central o povo Viking, que este lado místico, espiritual, tão rico e peculiar em suas práticas seja devidamente explorado.
Em outros filmes que desejaram fazer o mesmo, confesso ter sentido falta dessa aproximação deste mergulho profundo e quase que mágico. Para além de todos os outros detalhes que me cativaram o olhar e a mente, tem a trilha sonora inegavelmente perfeita.
O HOMEM DO NORTE – SINOPSE
Na Islândia, no período de virada do século X, o pequeno príncipe nórdico Amleth (Oscar Novak) presencia o assassinato de seu pai, o rei Aurvandil (Ethan Hawke).
Temendo pela própria vida, ele foge sem rumo em uma canoa. Agora adulto, Amlet (Alexander Skarsgård) trama um plano de vingança contra aqueles que traíram sua família no passado.
O HOMEM DO NORTE – ROTEIRO
Para uma obra ser magnífica, claramente, é necessário que o arranjo seja harmônico desde sua composição.
Com “O Homem do Norte”, não foi diferente. É notório o quanto o roteiro casou em perfeição com a particuladade do Diretor, que sabe executar adaptações fidedignas para as telonas.
O roteirista, não pecou em sua construção minuciosa da trama, revogando o direito de excepcional pra si.
As citações, os diálogos, a construção dos personagens, a presença irreverentes da espiritualidade nórdica, o misticismo, as nuances e peculiaridades do povo, a miscigenação e traços próprios das regiões; nada ficou de fora.
Sjón amarrou, muito bem, diga-se de passagem, todas as entrelinhas transformado o roteiro em algo maior. Muito além do estimado.
O HOMEM DO NORTE – PERSONAGENS
A construção dos personagens é de nível estrondoso.
Não há, dentro da narrativa, qualquer um que tenha sido desenvolvidos de forma fraca ou menor que outro. Pode ocupar lugar de cena pequeno, aparições menos, mas, em nada, deixam a desejar.
A gente sabe que a lista do Cast é estelar, escalação pra lá de bem sucedida, cada ator com seu personagem e aparente liberdade criativa, trouxe propriedade a convocação e profissionalismo que é de se estimar.
Alexander Skarsgård vive o personagem Amleth, herdeiro do trono de Aurvandill War-Raven (Ethan Hawke).
O trabalho que Skarsgård fez com Amleth é imensurável, acredito que por ter tido uma liberdade criativa muito ilimitada, o ator pode trazer uma organicidade para o seu personagem, que (pelas duas horas de filme) nos faz crer, tratar-se de um autêntico nórdico embebido de todas as suas peculiaridades.
A dedicação que o ator, com certeza, precisou ter para com o porte físico é plausível. A postura que o personagem assume, tanto física (aquela coisa um pouco encurvada, por ser forte demais e bronco demais), quanto comportamental e mental. Claro, impossível de esquecer ou deixar de lado, a entrega espiritual.
Todos os personagens tem uma conexão muito valisosa com suas divindades e crenças, mas como a gente acompanha em grande parte o próprio Amleth, conseguimos focar melhor nesta relação que ele edifica.
Todos os seus passos, todas as suas decisões, se dão a partir de suas crenças. Principalmente seu comportamento. É uma leitura magnífica a qual conseguimos fazer.
Desde o momento mais animalesco, primitivo, até o ápice de seu momento romântico e decisivo. Não há, em um instante sequer, que a gente não vibre ou vivencie a experiência de Amleth, sem se sentir dentro da própria trama.
Outra atuação impecável é a de Nicole Kidman como Rainha Gudrún, do princípio ao fim! Ainda que, nos primórdios do filme, a gente consiga ficar em dúvida a respeito de sua posição quanto à toda situação; quase que parecendo ser óbvio demais.
Há uma reviravolta, ou melhor, uma revelação, que nos traz a certeza da dúvida ou especulação e nos surpreende a justificativa. Esse poder que Kidman doa a sua personagem, nos presenteia com uma cena digna de Oscar.
Eu juro, não consegui sentir uma gota de raiva, apenas compreendi as razões da personagem e quis aplaudir de pé, a atuação desta cena fantástica. Que se dá, no reencontro de mãe e filho.
Ademais, há de se reconhecer que Anya Taylor-Joy , interpretando Olga, também é formidável e traz um peso necessário para a conduta e escolhas de Amleth. Elevando a trama a um patamar interessante.
O HOMEM DO NORTE – MISTICISMO, RELIGIOSIDADE
Julgo ser de extrema importância enfatizar a beleza da presença da religiosidade, deste misticismo presente na crença pagã dos nórdicos.
A mitologia nórdica é estupenda, os apaixonados por mitologias, sabe bem o que estou a dizer.
Um ponto que, por vezes, sinto falta de ver explorado em alguns longas que fale sobre o povo nórdico , sobre os vikings e afins. Porque é de uma riqueza incomensurável e belíssima.
Sjón e Robert Eggers não pouparam esforços para poder trazer boa parte deste imaginário para dentro do roteiro, presenteando os expectadores com as práticas daqueles viventes.
Desde o início a gente já percebe, pela citação inicial, que é um peso importante na vida dos personagens e na engrenagem da sociedade da época, a atividade religiosa.
Essa tradição carregada ao longo dos anos, é muito respeitada e fielmente praticada. Independente de qual seja o deus, independente de qual seja o rito, ele existe. E ele é seguido. O destino é traçado e as escolhas são postuladas.
O respeito e prática vão desde princípios básicos a ritos mais elaborados, a personificação que os envolvidos tem para com a natureza é fantástica.
Levou-me a perceber uma prática antropofágica, não pela consumação da carne mas pela troca de alma com os animais em questão ou até mesmo com os elementos da natureza.
É tão forte a tradição e a busca por ela, que não há nada escrito é tudo dito. O aprendizado se dá pela oralidade, pela convivência, pela prática, pelo aperfeiçoamento, no dia a dia, no íntimo do indivíduo com a sua abertura para o transcende. É magnífico e hipnotizante.
O HOMEM DO NORTE – DESTAQUE PARA A DIREÇÃO
Robert Eggers estava a vontade, sem dúvidas! Pisando no solo de conforto e sabendo que não entregaria nada menos que um forte concorrente ao Oscar.
Sim! Ouse dizer que “O Homem do Norte” será um concorrente ferrenho ao Oscar do próximo ano, talvez pelas categorias de melhor direção, melhor figurino, atuações, melhor roteiro original, fotografia, trilha sonora .
Ainda que não sejam todas as indicações acima, alguma, precisa receber. Ainda bem que temos vários prêmios ao longo do ano.
Retomando o fio da meada, Eggers não deixou a desejar, ele colocou a sua assinatura naquilo que faz de melhor, trazer de forma visceral e perfeita o místico, o sombrio, o sobrenatural, a experiência pagã em sua perfeição e grandiosidade.
Ele já havia trabalho muito bem este lado em “A Bruxa”, cuja protagonista for a vivenciada por Anya Taylor-Joy, se você ainda não assistiu este filme, por favor, assista. É estupendo.
Robert sabe explorar seu cast como ninguém, bem como todas as deixas de seu espaço cinematográfico.
Ele traz as belas paisagens no contraste perfeito com o humano, a complexidade de cada personagem, com o time exato de música, posição de câmera, escolha de cenário, intimidade com os atores.
Cada cena, cada única cena, tem um peso irrevogável, tem uma condução de tirar o fôlego. Nos incomoda, quando é para incomodar, nos coloca dentro da cena, nós causa revolta, nos causa empatia, nos causa raiva, nos causa amor.
Desperta o desejo de ser mais de conhecer mais, de fazer parte daquele lugar de querer ver através dos olhos daqueles personagens, de indignar-se com certos absurdos, de maravilhar-se com certas práticas, de não concordar com o personagem, mas aplaudir sua perspicácia e, acima de tudo, de viver a narrativa.
Meus elogios estendem-se para a fotografia do filme, ela arrebata a todos nós. Não há um só momento que você não se sinta maravilhada(o). De cair o queixo.
Também aprecio muito o figurino, que pareceu muito bem estudado antes de ir para cena, parabéns aos envolvidos.
Por fim, a belíssima trilha sonora que é muito fidedigna.
Trailer:
Leia também:
Obrigada pelo seu comentário! :-)