Priscilla é uma borboleta presa em seu próprio casulo, que ao ganhar liberdade, liberta todas nós, mulheres e pessoas que se vêem envolvidas com a narrativa cinematográfica exasperadas pelo momento em que as asas alcançam o céu estrelado.
Confira a matéria completa para saber mais sobre esse filme, que é promissor ao Oscar 2024!
Com a assinatura indiscutível e inconfundível de Sofia Coppola, Priscilla é a beleza, delicadeza, força, um baú de sonhos e nostalgia, uma névoa fria e triste e uma mãe intensa com traços de menina e sede se mulher. Coppola nos aproxima de suas personagens de modo intimista, prendendo-nos a narrativa, levando-nos a acelerar o coração de ansiedade por encontrar Priscilla e a retirar das garras de Elvis.
Não! Este filme não é uma reposta feminase ao filme do Elvis (2022), ele é a visão e a vida da mulher que eram muito mais do que apenas a Esposa de Elvis Presley. O filme utiliza-se da literatura: “Elvis e Eu” que fora escrita pela própria Priscilla em 1985.
O filme acompanhará a jornada de Priscilla nos longos, inquietantes e conturbados anos ao lado de Elvis. Com apenas 14 anos de idade viu-se perdidamente apaixonada por Elvis e dali em diante, até seu casamento efetivamente, ela teve de ponderar muitos sentimos e muitas negações.
A narrativa nos embala em um, quase, conto se fadas ambientando o seu público à estética do deslumbre, sonhos, paixões, amores, dores, negações, ilusões, incertezas, fúria e calmaria. A jovialidade entrega da protagonista nos atiça e comove a cada segundo de sua aparição em tela.
Cailee Spaeny tem a capacidade de entregar tudo e um pouco além. Leva-nos a confiar na docilidade de Priscilla, na inocência de um amor puro e confiante, cego e extremo. Consequência de sua pouca experiência de mundo em sua juventude.
O relacionamento de Priscilla e Elvis é construído entre mentiras, devaneios, idas e vindas de uma incerteza absoluta. Devaneios e névoas como a própria personagem em si. Elvis deleitava-se com a tenra idade e beleza impecável da jovem que, por sua vez e pura inocência, o via como um artefato inalcançável e imaculado. Sofia Coppola faz questão de deixar bem claro a idade de Priscilla, jogando em nossa cara a insanidade que aquela situação se mostrava.
É um dos pontos mais altos da narrativa, os estudos se Priscilla, a vida inocente de uma criança que mal entrou para a adolescência e pouco sabe sobre si e sobre o mundo e se vê obrigada a ser artigo de luxo e bonequinha de louça para o aclamado ator e cantor. Quantas e quantas vezes ela anulou seu desejo, seu momento de descobrir o mundo e sua personalidade para ser a menina mulher que Elvis queria.
Elvis é apenas um homem, problemático, traumatizado, cheio de recalques e traços de uma relação tóxica vivida com a mãe. Um homem ordinário como qualquer outro, aqui, quem tem voz e vez é Priscilla e isto é extremamente importante, porque podemos vislumbrar como era tal relação e tão astro por outra perspectiva.
É um constante embrulho no estômago acompanhar o início desta relação, porque o espectador tem o todo da relação desde o início, sabendo como se desdobraria e o quão tóxico é sufocante seria e é para a garota. É uma vontade constante de dar boas bofetadas na cara do Elvis e acolher e chacoalhar Priscilla.
Coppola consegue extrair da literatura e trazer para seu filme exatamente aquilo que precisamos saber e, é angustiante perceber o apagamento da jovem Priscilla ao trilhar dos anos. Apagamento que se dá devido a dependência emocional insana que Elvis e ela acabam criando. Coisa que, para nós espectador, fica bem claro desde os primórdios da narrativa.
Sofia Coppola acerta em cheio na escolha de seu elenco, narrativa, condução do longa, tempo de produção, liberdade criativa para os artistas e a perfeita simetria de um set impecável.
Os figurinos, maquiagem, trilha sonora, fotografia, montagem, roteiro, dinâmica dos atores, tudo acontece de forma brilhante e instigante. Um aconchego para os olhos e tumultuar para alma. Nos tira de nossa zona de conforto e nos leva para dentro da narrativa, submersos, temerosos, ansiosos e intensos. Somos como Priscilla!
Por falar em maquiagem, trago aqui um dos pontos mais marcantes e intensos da obra, a mudança arrebatadora e violenta dos traços de uma Jovem que precisa ser uma mulher para um homem alucinado e incapaz de permiti-la ser quem era verdadeiramente. Os traços fortes do lápis de olho, o vermelho do batom, o preto dos fios do cabelo, o penteado inusitado. Tudo era Elvis, nada era Priscila. Essas delicadezas na condução do longa traz ainda mais vida para narrativa e nos lança neste horizonte incerto e doentio
Um filme que se inicia em flashs e gradativamente ganha tempo, espaço, peso, respeito, energia e fluidez. Você se sente pregado a cadeira, mergulhado no telão, assistindo aos detritos de duas vidas despedaçadas por dores invisíveis aos olhos e assustadoras a alma.
Priscilla é um convite imersivo que merece e precisa ser degustado como um bom vinho que, ao ficar muito tempo exposto, ganha sabor, acentua e encanta o paladar. Aos poucos a gente saboreia e quando dá por si, está alí, vendo a pequena grande mulher se libertar de seu casulo emocional doloroso, dia-a-dia retomando a essência de quem é, se libertando das cores, das dores, das amarras, das agressões, da ausência. E o vôo é tão belo e tão precioso quanto a grandiosidade da personagem!
Lá no final do por do sol, você encontra Priscilla e a abraça apertado feliz por vê-la livre para ser quem é e como bem deseja.
Obrigada pelo seu comentário! :-)