Os Rejeitados chega para os cinemas brasileiros nesta quinta-feira e proporciona uma experiência de beleza aos expectadores. E quando digo beleza, é a beleza que se encontra dentro dos personagens em seus laços improváveis.
Continua conosco nessa matéria para saber mais sobre essa novidade do cinema, Os Rejeitados, sem spoilers!
Alexander Payne (Nebraska e Os Descendentes) reúne um elenco de peso e traz uma história totalmente ordinária transformando-a em algo extraordinário. O simples vivenciar das festividades de Natal e Ano Novo em um contraste quase trágico do calor familiar contra a neve rigoroza de um frio rejeitado.
É neste contraste que as histórias de um professor tipicamente cansado e comum, se encontra com a história de um de seus alunos problema e uma cozinheira, mãe em luto. As paredes de um internato nunca foram tão silenciosas e berrantes, ao mesmo tempo.
Ao longo da narrativa nós acompanhamos a história de um professor (Paul Giametti) que cumpre as características do imaginário popular do tipo: chato, solitário, exigente, nada atraente e para completar, estrábico. Detentor de um gigantesco saber em História Antiga, leciona em um colégio interno que fica aos arredores de Boston e, para sua felicidade, vê-se castigado e obrigado e cuidar dos regressos que não poderão passar as festividades de final de ano com sua família. É com esta deixa de um inverno rigoroso em tempos de calor humano e festividades, que a gente vê edificar o laço improvável entre o trio de protagonistas que nos enlaça em suas tramas, nos proporciona doses (a conta gotas) de comédia e um embalo de drama.
Este trio, improvável e com suas diversas questões, se descobrirão ao longo dos dias, vendo-se obrigados a passarem Natal e Ano Novo juntos, como uma espécie de castigo da vida que colocou aqueles Rejeitados em um mesmo recipiente e chacoalhou enchendo de água e mais água para que transbordasse e misturasse tudo em uma confusa e necessária experiência de sentimentos.
O desdobrar da narrativa nos implica várias reflexões, tais como: quais escolhas podemos e devemos fazer para concretizar nossos sonhos? Somos suficientes para nós mesmos? Será que o outro é apenas aquilo que vejo? Minha dor é única? Quem são os rejeitados por não encaixar nas exigências sociais?
E muito possivelmente tenha sido exatamente aí que Alexander Pyne tenha sido brilhante, porque soube explorar o cotidiano das nossas angústias em um drama-comédia pulsante a partir da entrega orgânica e brilhante de seus protagonistas, que mergulharam em seus personagens e proporcionaram aos espectadores um deleite. Paul Hunham, tem um notório problema com álcool, pega sua garrafa ao levantar e deita-se com ela rigorosamente, como uma prece. Bafo este que sempre é notado por seus alunos, principalmente nesta época de detenção forçada para aqueles que ficaram para trás e não poderão estar com os familiares.
Em contra-partida temos Mary Lamb, uma mãe em luto que precisa sobreviver, sobreviver de si mesma, da vida, das dores, da falta, do cotidiano, lugar onde seu filho esteve com ela durante anos, da realidade injusto que envia o garoto para guerra, porque não tem condições financeiras para bancar a faculdade. Uma grande mulher em luta consigo mesma. E, por fim, o terceiro Rejeitado, Angus que é obrigado a se manter longe de sua família, porque a mãe não o quer em suas viagens com o atual marido. E, talvez, seja esta a rejeição que mais nos pega, porque é só no desdobrar da narrativa que a gente vai compreendendo e vivenciando a dor deste personagem, bem como a dor de todos os envolvidos. É como um prisma que podemos olhar por várias óticas e todas elas refletem um incômodo que nos comove!
Mas, não só de dor e angústia vivem este trio, é a partir delas que eles se libertam e pouco a pouco vão descobrindo possibilidades de alegria, de serem para além de toda marginalização da rejeição à qual se vêem constantemente submetidos.
Os poucos aprofundamentos dos diálogos falados, são preenchidos com os gestos, os olhares, os arcodes, as lentes atentas das câmeras. Do medicamento antidepressivo que é compartilhado em segredo por Paul Hunham e Angus, aos goles e goles de uísque que afogam a dor de um luto parental (mãe e filho) e de um luto existencial (professor e seus sonhos). A rebeldia de um garoto sem mãe e a doçura e olhar acolhedor de uma mãe sem filho
Os fantasmas retirados do fundo do baú, tornam-se combustível para buscar o novo, para buscar a si acima de tudo e apesar de tudo, sem medo do que pode vir a lhes castrar os sonhos. Eles são eles mesmos, nos pequenos fragmentos de realidade gentil, de sorrisos honestos e edificação de lembranças que curam o que a névoa do passado deixou e abandonam àqueles que os rejeitaram. São pequenos e tenros momentos que nos aproxima ainda mais destes personagens extraordinários.
E no findar da trama a gente tem o ápice do sujeito que se diz e não se submete, que é honroso com sua palavra mas, acima de tudo, que honroso com seu camarada e o mais profundo do que puderam vivenciar juntos! É neste laço improvável que o amor se faz de verdade e não será esquecido jamais!
Sem spoilers, vocês terão de conferir por si mesmos o que esse obra Os Rejeitados, de Alexander Pyne, pode despertar em você, ainda que passada a temporada de festividades de final de ano, temos a temporada de férias e estás também merecem ser aproveitadas, assim como Paul, Angus e Mary o fizeram.
Espero que as Meditações presenteada por Paul guiem vocês vida afora, quero dizer, filme adentro!
Obrigada pelo seu comentário! :-)