O novo filme de Demián Rugna (Aterrorizados), O Mal Que Nos Habita, faz-nos pensar se o Mal que Habita em cada um de nós é acordado por uma neurose coletiva ou por um evento sobrenatural, possessão demoníaca? Continue conosco nessa matéria e confira a crítica desse filme.

O filme, que tem seu início de forma abrupta e orgânica, aparentando ser uma gravação caseira, não explica muito. Apenas acontece e te carrega de um lado para o outro em cenas que se atropelam junto aos diálogos protagonizados pelos personagens. Diálogos estes, que nos faz acreditar que todos ali presentes estão sofrendo uma neurose coletiva que os leva a tomar decisões precipitadas e irreais. É como se todos estivessem tão desesperados com a ideia apocalíptica de um fim inevitável ao sujeito humano, que acreditar no irracional é a melhor maneira de culpar as escolhas erradas ou que levam ao fim.
E, se você espera por mais um filminho de terror mamão com açúcar que pouco explora as nuances e belezas da produção clássica de terror antigo, sugiro que repense sua expectativa, porque O Mal Que Nos Habita (Cuando Acecha La Maldad) é uma sessão de gore, thriller e poucos jumpscare. Tem a dose exata de tudo aquilo que nós, amantes do cinema antigo do gênero, adoramos.

As primeiras cenas são de revirar o estômago e, só de lembrar, dá aquele arrepio de nojo. Sim, de nojo! Demián é original e genial ao propor um personagem em uma situação tão grotesca e horripilante, que nos faz questionar seriamente a sanidade dos familiares do sujeito. Julgando, previamente, que são todos bitolados, não enxergando claramente que trata-se de uma doença orgânica que evoluiu para uma doença de saúde mental. Contudo, ao decorrer dos acontecimentos, a gente compreende que o Mal Que Nos Habita é muito mais do que apenas uma desordem psíquica. O filme adentra o folclore as crenças de um povo indígena local, que incredulamente não acredita na possibilidade de uma possessão demoíaca, porque isso “é coisa da cidade, não da aldeia”.

Talvez seja aqui, que a gente se vê confrontado pela questão de um preconceito do colonizador para com o colonizado, a cidade é capaz de ter possessão demoníaca, porque é onde a maldade Habita. Nos desejos que se desviam da vida simples. A aldeia, abandonada à própria sorte, não seria palco para algo tão vil, tão passível de ainda mais sofrimento e exclusão. É como se a possessão demoníaca escolhesse aqueles marginalizados para exterminar de vez. Afinal, se nada são e a ninguém agrada a existência destes, porque não sumirem do mapa?! Desta ruptura para frente, a coisa vai tomando uma roupagem mais específica e vamos compreendendo que embora o Mal nos habite pela nossa capacidade de corrupção e ações antiéticas, aqui, trata-se de algo muito mais profundo e sobrenatural do que a racionalidade possa conceber.

O filme que começa em uma narrativa não caótica, vai ascendendo, aos poucos, explicando que toda sua composição tem racionalidade e a linguagem simples e orgânica a qual se desenvolve tem a tendência de colocar cada um de nós, “espectadores”, na dúvida. Porque essa dúvida é uma porta de abertura para que se instale a maldade de um demônio genial. Mais e mais cenas gore se esparramam pela trama nos fazendo ter horror a olhar para tela e pedindo “por favor” para segurar tudo no estômago (um exagerinho para brincar com vocês). O que me leva a conceituar este filme como um dos melhores, até o momento. Um dos melhores filmes de terror, estrangeiro, dos últimos anos. Inteligente, simples, com uma pegada esplêndida de terror clássico que foca nos acontecimentos passo-a-passo.
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