Uma Vida: A História de Nicholas Winton (One Life) é uma das grandes obras cinematográficas deste ano, o filme consegue traduzir perfeitamente bem o que é o amor e a dedicação à humanidade, sem esperar nada em troca.
Anthony Hopkins é um gênio, isto não é surpresa para ninguém e faz cumprir com seu legado, entregando-nos um personagem que conquista a todos do início ao fim. Suas construções de personagens são sempre muito inteiras, com Nicholas Winton não foi diferente.
O filme que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, vale cada segundo de cena, cada detalhe e cada lágrima que escorrerá de seus olhos!
UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON – RÁPIDA BIOGRAFIA
A obra cinematográfica de James Hawes é espetacular, trazendo a adaptação da vida de Nicholas George Winton (Wertheim), foi grande humanitário que exercia a profissão de corretor da bolsa britânico. Nascera em 19 de maio de 1909 – Slough e falecera em 1 de julho de 2015, aos 106 anos.
Nicholas é descendente de pais judeus alemães que, ao se integrarem na Inglaterra saídos de sua cidade natal após a primeira grande guerra, mudaram o sobrenome Wertheim para Winton, devido ao medo da perseguição e do que estaria por vir.
Esta informação já nos é muito preciosa, porque embora ele e sua família não tivesse práticas judias e tivessem a prática anglicana como religião, sua origem sempre fez parte ativa de sua existência, de sua pessoa enquanto humano. A criação que recebera de seus pais, o levou a ser um homem tão grandioso e entregue ao outro.
Nicholas Winton teve seus feitos históricos, escondidos, por quase 50 anos! Porque, para ele, nada importava senão ajudar ao próximo. Ele nunca buscou fama, reconhecimento.
Muito pelo contrário, sempre fez questão de pautar que sua participação foi só uma gota d’água no oceano. Que os grandes heróis foram seus companheiros de luta, que enfrentaram os horrores, de perto. Atravessando o continente com as crianças, levando-as para a Esperança de uma nova vida.
Tendo salvado 669 crianças da Tchecoslováquia para colocá-las em lares adotivos na Inglaterra; seus passos foram conduzidos pela emergência de vidas que não teriam grandes chances de sobrevivência.
UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON – ROTEIRO
Gostaria de ressaltar a delicadeza do roteiro deste filme, um caminho percorrido em crescente que vai tomando espaço dentro de nós, pouco-a-pouco ocupa a nossa mente e logo a nossa emoção.
É fácil nos conectarmos com a história narrada, seja porque chama a nossa humanidade para acordar, seja porque estamos a vivenciar constantemente situações tão semelhantes. Aqui, em nosso país e pelo mundo com as guerras civis em atividade.
Importante dizer que, para que este roteiro tenha a excelência da potência com a qual ele nasce, cada personagem é imprescindível e acima de tudo, atrizes e atores que deram vidas à estes personagens formidavelmente bem.
Concluo dizendo que o roteiro pegou apenas uma parte da vida deste humanitário, alguns detalhes (talvez até importantes, que poderiam ser abordados e nos trariam outra dimensão), precisaram ser deixados de lado, porque não teria tanto tempo para desenvolver.
Muito possivelmente porque a grandes história que ganhou adaptações em outros momentos, documentários e afins, busca em específico o feito que traz visibilidade midiática e afins, sem esvaziar a importância disto, claro.
Por exemplo, na vida real, Nicholas Winton sofreu muito com a perda de seu filho que tinha síndrome de down, e certamente isso se misturou às grandes perdas daqueles que ele não pôde salvar, o que o entristece por um longo período de sua vida, mas o leva a criar algo bom a partir daí.
Será que caberia no filme? Talvez não, porque se acrescesse à narrativa, teria de caminhar para um outro lado e perderia o fio da meada – finalidade – ampliando demais o leque e não o fechando.
Não é uma crítica, devo dizer, mas sim uma observação que talvez ajude-nos a compreender muito sobre a construção do próprio personagem, já idoso.
UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON – ATUAÇÕES
O ponto alto de “Uma Vida: A História de Nicholas Winton” é, sem dúvida, a atuação de todos os envolvidos, não conseguiria ser injusta e deixar de parabenizar a todos os atores e atrizes que compuseram essa obra cinematográfica e a tornaram tão real.
Nicholas Winton por Sr. Anthony Hopkins é emoção pura, suas expressões, seus olhares, seus gestos, a todo momento consegue nos convencer de que ele não é Anthony mas Nicholas.
Nicholas Winton por Johnny Flynn, que o interpreta enquanto jovem. É, também de uma entrega única, conseguindo nos fazer pensar como seria a personalidade e o “jeitinho” daquela pessoa leve, que enxergava uma possibilidade em tudo que se mostrava como impossível. Que lutaria até o fim, ainda que afastado do caos, mas que se esforçaria para conseguir.
Babi (Barbara) Winton por, a linda, talentosa, incrível e incomparável: Helena Bonham Carter! Uma personagem que, apesar de suas apariçoes pontuais, também entrega tudo e diz muito sobre quem foi Nicholas e porque ele assim o foi. Suas falas, suas ações, a forma como se colocava e peitava a quem fosse necessário, com classe e muita sagacidade, complementa esse enredo que fica cada vez mais intenso e emocionante.
Grete Gjelstrup Winton (Lena Olin) foi a esposa de Nicholas, eles se conheceram no banco onde ele trabalhou, ela era secretária filha de um contador. Uma personagem secundária de importância relevante para a trama, porque foi ela quem encontrara, em 1988, “adormecido” no sotão da casa deles, o caderno de registros das crianças salvas por Nicholas e seus amigos. Até aquele presente momento, ela não sabia de nada, muito menos o resto do mundo.
Doreen Warriner (Romola Garai), foi uma das heroinas que batalhou dia e noite para que famílias inteiras de refugiados pudessem ser salvas, ela foi um canal importante para a chegada de Nicholas até Praga. Se não fosse por seus esforços junto à Beatriz, talvez essa história não teria sido como foi.
Martin Blake (Jonathan Pryce), era grande amigo de Nicholas que vivenciava os horrores avançando até Praga, trabalhava no consulado e precisou retornar à Inglaterra o quanto antes, devido a ameaça de vida que sofrera.
Trevor Chadwick (Alex Sharp), foi outro grande herói, que enfrentou soldados, batalhou nos campos de refugiados, acompanhou as crianças nos transportes que atravessavam a Holanda até a Inglaterra e colocou sua vida em risco sem hesitar. Penso eu que, muito por isso, Nicholas passou tanto em silêncio, porque a declarar por si mesmo, não considerava merecedor dos louros. Ele era só uma peça na engrenagem.
Hana Hejdukova (Juliana Moska), também for a figura extremamente importante, que junto à Trevor viajou com as crianças levando-as para Inglaterra, e, até onde conseguimos perceber no filme, acabou sendo apanhada pela polícia nazista que, certamente a levou a campos de concentração ou a exterminou imediatamente.
E, por fim, outro destaque é a Elisabeth Maxwell (Marthe Keller), historiadora e esposa do magnatada das mídias Robert Maxwell. For a nas mãos dela que Nicholas entregou seu precioso caderno que, por sua vez, contou a história ao esposo e, a partir daí, ganhou a mídia em um programa de palco.
UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON – MERGULHO FILME ADENTRO
Nicholas Winton estava em período de férias, próximo ao Natal em 1938. Seus planos, até então, era ir para Suíça esquiar e descansar. Porém, recebera um pedido de ajuda de Marie Schmolka e Doreen Warriner o que fez mudar seu roteiro da Suíça para Praga, com a intenção de visitar o amigo Martin Blake.
Martin, estava em Praga como um membro do Comitê Britânico para Refugiados da Tchecoslováquia, Martin buscava tentar ajudar, no que lhe fosse cabível, as famílias que estavam abrigadas nos campos de refugiados. Ele solicitou a ajuda de Nicholas no trabalho de assistência social judaica.
Nicholas partiu para o campo de refugiados com a ideia de tentar ajudar no que fosse possível, uma vez que sua família estava sempre envolvida com questões humanitárias e de refugiados.
Afinal, eles já estiveram neste lugar, um dia, se não fosse pelo abrigo que encontraram em seu novo lar, em seu novo país, poderiam ser eles os viventes daquela situação horrenda.
Daí em diante a trama se desenrola em cenas e diálogos comoventes, nos deparamos com uma força tarefa gigantesca que, ao lado do Comitê de Refugiados da Tchecoslováquia, voluntários britânicos e canadenses como Nicholas Winton, Trevor Chadwick e Beatrice Wellington trabalharam, incansavelmente, na organização para ajudar crianças de famílias judias em risco dos nazistas.
O cuidado em reproduzir de forma mais aproximada e fidedígna dos fatos, pode nos proporcionar assistir aos escritórios que, muitos deles (voluntários) chegaram a montar em uma mesa de jantar de um hotel na Praça de Venceslau. Em um sótão de um prédio abandonado em segredo absoluto, entre outros espaços que precisavam ser discretos e de fácil escape.
Ao todo, Winton passou cerca de um mês em Praga e partiu em janeiro de 1939 para a Inglaterra, depois de coletar o máximo de dados possíveis para seguir com seu plano de salvar as crianças das garras da eminência nazista.
Seis semanas depois de seu retorno, o pior aconteceu e a Tchecoslováquia foi ocupada pela Alemanha Nazista, àquela época, outros voluntários estrangeiros permaneceram nos locais de refúgio ainda com o intuito de conseguir transportar mais crianças para a Inglaterra, entre eles, Trevor Chadwick, Dooren Warriner e Beatrice Wellington.
O Nicholas Winton de Anthony Hopkins é contagiante, como eu já disse, o personagem construído por ele adentra a nossa alma. Através da narrativa pelo olhar de Nicholas, que conta sua história trazendo flashs de memória, nos vemos dentro do filme, tomados por uma emoção indescritível.
É de uma profundidade tão delicada que consegue emergir para nós questões como: a dor de Nicholas, o luto de Nicholas não o fazia o enxergar o feito daquelas 669 crianças salvas, mas as 250 que não puderam ser salvas.
É essa dor que perpassa grande parte da narrativa e que nos rouba o sossego, afinal de contas, as lágrimas que escorrem do rosto de Nicholas Winton em uma atuação de tirar o fôlego de Hopkins, deixa bem claro que não era pelos 669, mas pelos 250 vazios dentro de si.
E logo vem a cena derradeira do trem que não chega, das crianças que não chegam, dos voluntários que não chegam, do horror que se instaura, da dor e do medo que tomam conta, do silêncio que nos invade a alma e nos leva a sentir tudo aquilo que cada um sentiu.
O choro de libertação e dor, o choro da incerteza, o choro do sentimento de fracasso que apagou o sentimento de esperança e nova vida que ele e seus amigos e tantos voluntários trouxeram às outras crianças salvas.
O filme é certeiro em promover aquilo que busca: emoção. O drama entregue cena após cena é espetacular, é um filme que, apesar de contar uma história, não se desenvolve de forma lenta, acontece em passos precisos que se dizem e pronto. Não é preciso enrolação para contar o que já se espera.
A química entre a equipe de atores é bem visível, uma vez que a gente se sente parte da trama, esperando por cada acontecimento com o coração palpitando em ansiedade. A esperada cena, que circulou nas redes sociais através de um vídeo, em que Nicholas está no programa de auditório “That’s Life” e se depara com os adultos que, um dia, foram as crianças salvas por ele, é para nos fazer derreter na cadeira do cinema.
Claro, não estavam ali todas as 669 crianças-adultos, estavam ali quem puderam ser encontrados depois de tantos anos, os filhos, os netos, as gerações que foram salvas por Nicholas, Doreen, Trevor, Beatrice, Hanna e tantos outros!
Poder experimentar as cenas é uma indicação que vale muito a pena o tempo de todos nós, principalmente quando a gente vê o Nicholas de Anthony Hopkins se libertando de toda dor e compreendendo que aquilo que ele e os companheiros fizeram, foi muito maior do que as vidas que não conseguiram salvar.
Se você conhece a história deste humanista e estava, também, muito animada(o) para poder conferir essa linda produção cinematográfica, pode apostar que vale seu tempo e investimento.
Composição de cena, cenário, filmografia, fotografia, edição, roteiro, som, trilha sonora, elenco, figurino, contexto histórico, adaptação, todo conjunto da obra está muito bem harmonizado e entregue o que promete. Te desejo um ótimo momento de conexão com essa história tão grandiosa, bom filme e não esquece do lencinho.
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