O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é um respiro em meio à onda de animações 3D, trazendo um estilo impressionante de animação – em ‘Anime’ – o traço utilizado nas produções de animação japonesas.
A trilogia de Peter Jackson marcou a história do cinema, extrapolando a bolha dos apaixonados por universos de RPG para se tornar um símbolo na cultura pop. Inspirado nas obras de J.R.R. Tolkien, o universo criado a partir desses filmes do início dos anos dois mil originarou várias continuações em um processo de expansão para contar novas histórias derivadas como a trilogia de ‘O Hobbit’ e o recém-feito para o streaming ‘Os Anéis de Poder’.
Nesse momento de explorar novas possibilidades, A Guerra dos Rohirrim conta a história inédita no universo de J.R.R. Tolkien, que antecede os acontecimentos da trilogia de ‘O Senhor dos Anéis’ sobre o reinado dos Rohan, governado pelo rei Helm Hammerhad. No entanto, o grande protagonismo do longa é feminino. Hera, a princesa dos Rohan, é apresentada como uma jovem destemida e arisca – porém – ao longo da narrativa desconstrói essa figura forte em uma garota sensível e que seria capaz de se sacrificar por seu povo. O destaque feminino vem tendo uma crescente lenta nos últimos anos, e o longa-metragem inova em relação aos seus antecessores que havia uma narrativa predominantemente masculina. Apesar de sustentar a ideia de uma protagonista forte, utiliza de elementos que enfraquecem a visão de imponência criada em torno de Hera, em todos os confrontos da protagonista, vemos sua fraqueza em relação aos homens que enfrenta.
Ao estilo ‘Game of Thrones’ – de George R.R. Martin, a trama sofre uma reviravolta quando um dos aliados do rei se alia à família rival, em uma grande conspiração. Essa clara inspiração, reflete também na figura da princesa que também possui uma relação ancestral com as criaturas desse universo assim como Daenerys Targaryen de ‘As Crônicas de Gelo e Fogo’. Hera então é espiritualmente ligada a aves gigantescas que serão eventualmente usadas como arma de guerra.
Essa espécie de ‘jogo dos tronos’ apresenta uma trama rasa, visto que apesar de apresentar quase três horas de duração, a motivação das figuras centrais para irem a guerra e essa intriga geracional entre as casas não são apresentadas nem mesmo por flashbacks. Essa influência das obras de R.R. Martin enfraquece o enredo quando os personagens apresentados são uma versão similar, mas pouco desenvolvida.
A longa duração do filme, embora comprometa o desenvolvimento aprofundado dos personagens, destaca-se como um trunfo na direção de Kenji Kamiyama, que entrega uma ambientação medieval repleta de elementos mágicos de tirar o fôlego. A escolha do estilo anime, inicialmente imprevisível dada a forte influência ocidental na construção da Terra-média, revela-se uma abordagem inovadora e criativa, expandindo as possibilidades visuais do universo de Tolkien e oferecendo um contraste marcante ao uso tradicional de CGI. Além disso, essa estética japonesa tem o potencial de atrair tanto fãs da franquia quanto admiradores do gênero anime, ampliando o alcance da obra para novos públicos.
(Alerta de Spoilers) As cenas finais de A Guerra dos Rohirrim estabelecem uma conexão direta com a trilogia original ao entrelaçar a jornada de Hera com eventos futuros da Terra-média. A carta de Gandalf surge como um símbolo de transição, sugerindo que Hera – agora – por sua jornada, desempenhará um papel importante na luta contra as forças sombrias em futuras continuações da saga.
Assim, ‘O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim’ oferece uma nova perspectiva ao universo de Tolkien, mesclando os elementos marcantes do material original e a inovação, em um estilo completamente inesperado. Embora apresente falhas no desenvolvimento de sua trama e personagens, a produção destaca-se pela ousadia estilística e pela ambientação imersiva que o formato anime proporciona. Ao revisitar a Terra-média sob uma ótica única, o filme não apenas expande o legado de J.R.R. Tolkien, mas também abre espaço para novas histórias que conectam passado, presente e futuro desse universo. É um convite para fãs antigos explorarem novamente a magia e os conflitos épicos da Terra-média sob um ângulo visualmente deslumbrante e culturalmente diferente.
Por Marcus Silva
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