Robert Eggers recria um épico vampiresco em Nosferatu tirando os fãs da sua zona de conforto.
Robert Eggers após ultrapassar o nicho de fãs de terror e se tornar uma referência em recriação de mitos ao seu próprio estilo obscuro e fantasioso, o diretor retorna em 2024 com Nosferatu, uma adaptação do longa-metragem de 1922 sobre a história do Conde Orlok – o famoso Drácula!
O longa de Eggers é apenas uma das diversas adaptações do clássico de 22, inspirada na obra literária Dracula – também muito reverenciada no horror – e em meio ao universo de vampiros na cultura pop o que parece ser uma tarefa árdua para trazer algo único, visto o esgotamento do gênero nos durante a década passada com o marcante crepúsculo, que se tornou referência para diversas outras mídias voltadas ao público jovem.
Em meio de uma estratégia publicitária inteligente, um diretor excelente e um elenco conhecido, Nosferatu apesar de não ser revolucionário pode trazer de volta a figura deteriorada, bem excêntrica, específica do Conde Orlok.
A atuação de Lily-Rose Depp – filha do ilustre ator Johnny Depp – é o grande diferencial deste filme de seus anteriores, o uso da sexualidade de Lily interpretando Ellen é algo carnal, fácil do espectador conectar-se com o sentimento contrastante de culpa e prazer da personagem.
A atriz que recentemente recebeu destaque por seu papel na série The Idol em uma atuação também bastante sensual, então nota-se uma evolução de Lily em momentos que Ellen precisa expressar a raiva causada pelo descaso de seu marido ao longo da narrativa.
O termo que vem ganhando destaque no cinema contemporâneo, o famoso ‘Feminine Rage’ – ou seja – a raiva feminina, muito bem utilizada por Lily-Rose Depp em seu papel, visto que tanto o clássico de 1922, quanto Nosferatu – O Vampiro da Noite (1979), introduzem Ellen como uma mulher quieta, quase etérea, sendo o estereótipo do par romântico a ser salvada.
No entanto, Eggers subverte essa tradição ao não apenas trazendo protagonismo a ela durante a cena final, mas também construindo ao longo do enredo uma personagem mais complexa, que brilha em momentos de força, refletindo a potência e a dualidade da raiva feminina como ferramenta narrativa.
As atuações de Willem Dafoe como Prof. Albin e Nicholas Hoult como Hutter são competentes, mas acabam sendo ofuscadas pela performance formidável de Lily-RoseDepp.
Ambos os personagens apresentam momentos de altos e baixos, entregando interpretações sólidas, embora sem grande impacto ou elementos surpreendentes.
A filmografia do diretor vem sendo elogiada desde sua estreia no cinema com A Bruxa (2015), e em Nosferatu não seria diferente, a ambientação de Wisborg – a cidade fictícia deste universo – está impecável, desde as ruas até as paisagens, todos os detalhes parecem ser minimamente pensados para transportar o público a esta cidade gótica.
Se tornando um verdadeiro épico no momento de virada do longa quando o vampiro chega a este lugar. Por outro lado, a trilha sonora não consegue alcançar a intensidade que os aspectos visuais proporcionam, sendo responsável – muita das vezes – por retirar a imersão do longa pelo contraste do elemento musical estridente e o aspecto soturno perceptíveis visualmente pelo uso de luz e sombra.
A ambição de Eggers em criar uma verdadeira lenda em torno do Conde afasta o longa de ser um horror capaz de causar arrepios, mesmo que durante a história são utilizados elementos como o Jump Scare (a mudança abrupta de cena para assustar), além do Body Horror, nos momentos em que Orlok revela sua verdadeira aparência, e nos momentos em que faz suas vítimas.
A forma brutal e crua que o antagonista bebe o sangue é usada como alegoria para a violação do corpo, simbolizando a invasão da autonomia e o domínio predatório. Essa abordagem intensifica o horror ao transformar o ato em uma metáfora visceral para a violência física e psicológica, ampliando o impacto emocional da narrativa.
O que torna o protagonismo de Ellen ainda mais intenso se analisada sua trajetória como sua tomada de decisão para a conclusão da trama.
As mais de duas horas de duração do longa para quem não está familiarizado com os simbolismo da trama pode se sentir perdido sobre as referências utilizadas no longa, sendo um exemplo de filme que após descobrir seu final é válido reassisti-lo para uma nova interpretação daquilo exposto em tela.
Por outro lado, para aqueles que são fãs dos filmes anteriores sobre o Conde pode esperar uma experiência bem agradável, com alguns novos elementos que enriquecem o que já havia sido estabelecido.
Crítica por: Marcus Silva!
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