O vencedor do Palma de Ouro em Cannes é o longa que mais se comunica com a Geração Z entre seus concorrentes a um Oscar, trazendo Mikey Madison na pele de uma carismática e apaixonante personagem chamada Anora, em uma das performances mais completas da atriz.
A conexão com Anora (ou Ani) é imediata. O jeito intenso e real como ela se joga de cabeça no romance com Ivan, um herdeiro de um magnata russo, é super fácil de se identificar, ainda mais sobre a decepção de descobrir um traço da personalidade tóxico no parceiro. A atriz que até 2024 não havia tido grandes papéis, é um dos talentos descobertos pelo longa Era uma Vez em… Hollywood (2019), como exemplo Margot Robbie e Margaret Qualley que se tornaram grandes estrelas, Mikey Madison então surge no longametragem como um tesouro escondido, que mesmo sem uma promoção massiva como seus concorrentes, tem ganhado o público por sua performance e entrega no humor e drama, na medida certa.
(Alerta de Spoilers) A virada de narrativa – o famoso “plot” – ocorre quando Ivan propõe Ani em casamento durante uma viagem a Las Vegas, se casando em uma cerimônia descontraída e informal ao estilo de “L.A”, ponto na narrativa que alerta e traz os capangas e os pais do herdeiro para procurarem o garoto que foge, deixando a recémesposa à deriva dos funcionários da família. Subvertendo então o diretor Sean Baker cria um cenário que a principio seria assustador, quando capturam Anora, em uma das
melhores cenas do filme, utilizando da química inquestionável entre a protagonista e Igor (um dos capangas). A vida de stripper e acompanhante de luxo da protagonista são extremamente memoráveis para o público e se tornaram virais nas redes, graças ao trabalho impecável da trilha sonora do longa que utiliza dos gêneros “hyperpop” e “EDM” para criarem um som essencialmente eletrônico que transmite aos espectadores a “vibe” da cultura dessas garotas marginalizadas.
A atriz tem revelado em entrevistas os bastidores do seu preparo para o papel, frequentando clubes de strip para conhecer as gírias, os trejeitos, e o famoso “twerk” estilo de dança popular nos Estados Unidos, semelhante ao rebolado do baile funk. As locações para a mansão onde vive Ivan, e o clube de strip que Ani trabalha, são locais onde boa parte da trama ocorre, sendo locais vivos, que se adaptam as emoções que as cenas demandam durante o enredo, sendo um grande acerto da direção criativa do longa, em um estilo de filmagem que acompanha a versatilidade da direção e roteiro. A comédia de Anora funciona bem na maior parte do tempo, mas durante seu terceiro ato, com a introdução de novos personagens e o aumento da carga dramática, o humor perde força. A tentativa de equilibrar os dois gêneros acaba resultando em momentos banais, evidenciando a falta de harmonia entre drama e comédia no longa. A experiência de assistir a Anora é ao mesmo tempo divertida e impactante. A dedicação de Mikey Madison ao papel pode lhe render prêmios além da Palma de Ouro em futuras premiações, enquanto sua parceria com o diretor Sean Baker resulta em um dos filmes mais autênticos do ano.
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