Em uma espécie de Succession (2018), ambientado em um jogo de poderes no evento mais importantes para a Igreja Católica, Conclave que venceu o Golden Globes de melhor roteiro, e comentado como um possível indicado ao Oscar, destaca uma performance impecável de Ralph Fiennes como um dos organizadores.
O conclave, um evento que ocorre no momento de se suceder o papa anterior após falecer, que isola as figuras importantes do catolicismo durante seu acontecimento. No longa a perda do líder religioso é quase que uma figura onipresente, ou seja, o ponto central de todas as discussões e embates que ocorrem durante a trama. Sua figura quase que divina, paira sobre todos aparece inclusive nos sonhos de Lawrance (o personagem interpretado por Fiennes).
As diversas votações para nomear o novo papa são o pivô das reviravoltas que causam a queda de uma figura que tem grandes chances de vencer, a se tornar odiado quase instantaneamente. Entre segredos, traições e muita conspiração o passado de cada cardeal é importante e decisivo para se julgar quem é mais digno (entre os votantes), ao cargo de poder. A discussão entre quem é mais digno de se tornar papa se intensifica com dos diversos candidatos, e a questões sociais levantadas, como o papel da mulher e o preconceito, se tornam pautas cada vez mais evidentes no longa formando no terceiro ato uma divisão entre dois grupos com ponto de vista totalmente opostos.
(Alerta de Spoilers) Os escândalos envolvendo os cardeais Adeyemi e Trambley trazem à tona revelações chocantes: o primeiro, ligado a um caso com uma freira que resultou em um filho, e o segundo, acusado de conspirar para que ela participasse do conclave. A trama se intensifica com a falta de opções viáveis e o atentado no segundo ato, que envolve o candidato mais promissor, apenas para que os votantes descubram que ele além de ser do oriente, possui distúrbios de orientação sexual, apresentando características femininas e masculinas.
As freiras, em especial a irmã Agnes tem papel fundamental para ajudar o cardeal Lawrance a descobrir os podres dos demais candidatos, visto que se a principio Lawrence era apenas um organizador, com as revelações que surgem, acaba se convencendo que é o mais apto a se tornar papa para manter seu legado. Nesse sentido, Agnes apesar de seu lugar de freira como invisível entre os homens, de servidão, se impõe em certo ponto, se tornando uma voz de apoio a manter os fundamentos do falecido papa, junto ao protagonista.
O desfecho inesperado do longa, aliado ao destaque para temas delicados, pode afastar parte do público que espera algo mais direto, em vez de uma reflexão profunda sobre moral e ética. Ainda assim, a narrativa se conecta de forma competente (embora não inovadora) à questão religiosa, entregando uma história instigante que mantém o interesse até o final, resultando em uma experiência cinematográfica envolvente, mas pouco memorável.
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