Em meio ao destaque do cinema brasileiro desde o final do ano passado em premiações internacionais, as expectativas para os futuros projetos nacionais se elevam, e Viva a Vida apesar de pouco ambicioso, investe em um roteiro bem escrito e personagens carismáticos para abordar uma mensagem sobre escolher dar mais sentido as nossas vidas.
A trama acompanha a protagonista Jéssica, vivida pela icônica Thati Lopes, uma jovem azarada que enfrenta dificuldades para prosperar na vida devido à sua espontaneidade ao falar tudo o que pensa e às suas ações impulsivas, embora bem-intencionadas, como roubar as joias do patrão para penhorá-las e devolvê-las depois. Sua personalidade imprevisível se torna ainda mais evidente ao descobrir que tem uma avó bilionária vivendo em Israel, vislumbrando a oportunidade de enriquecer da forma mais fácil possível.
Ao lado de Gabriel, interpretado pelo famoso ator Rodrigo Simas, os personagens possuem uma química e cumplicidade extremamente natural. Gabriel assim como Jéssica também enfrenta problemas financeiros, um fotógrafo responsável por alavancar a carreira de sua namorada, que ao longo do tempo acabou o sustentando em seu apartamento, em uma relação monótona e repleta de indiretas quanto a falta de interesse que um possui pelo outro. Então, de imediato Gabriel topa viajar com Jéssica, mesmo acabando de descobrir que ela é sua prima.
Da mesma direção de: É Fada! (2016) e Pai em Dobro (2021), Cris D’amato consegue em seus longas criar uma harmonia entre comédia e drama, que é um dos grandes problemas do cinema brasileiro há muitos anos, em utilizar com frequência um humor “Non Sense”, com personagens caricatos, estereotipados e extremamente rasos, mas que felizmente, não é replicado por Cris, que em suas obras consegue trazer motivação ao mesmo tempo que faz seus personagens não se levarem tão a sério, similar ao que acontece na série The White Lotus, criando uma complexidade em altos e baixos que criam instantaneamente identificação com o espectador pelas atitudes pouco racionais, mas movimentam a trama.
Os atores Jonas Bloch e Regina Braga, atuando como os avôs endinheirados de Jéssica carregam o dever de transmitir o significado de “viver a vida”, através de transposição entre passado e presente por flashbacks entre os momentos que eram jovens e fugiram do Brasil para viver um romance, para idosos, sendo que um deles ainda tem o desejo de viver novas aventuras, enquanto o outro se tornou uma pessoa acostumada com sua zona de conforto.
A escolha de gravar o longa-metragem em Israel enriqueceu a narrativa por trazer o público a um lugar pouco explorado em outros filmes no geral, realizando um verdadeiro “tour” em diversos pontos turísticos do país, além de trazer alguns momentos que explicam um pouco da cultura judaica. Em meio a desertos, praias e muita estética de verão visualmente rica, explorando tons vivos que realmente transmite a vontade de ir visitar estes lugares e criar novos momentos assim como os protagonistas. É surpreendente receber um longa tão simples, mas com uma execução tão refinada. A escolha do elenco, das locações e o roteiro foram acertos precisos de Cris D’Amato para narrar essa história de família e inspiração. Embora não surpreenda quem espera uma superprodução, é uma ótima opção para o cinema, com um enredo envolvente e boas doses de humor.
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