A decisão de Jesse Eisenberg de dirigir e atuar em seu próprio longa-metragem não adiciona nem prejudica sua construção narrativa. O filme a Verdadeira Dor aposta na intensidade emocional da atuação de Kieran Culkin, conhecido por seu papel em Succession (2018). Estreia hoje nos cinemas!
A atuação de Kieran Culkin, que inclusive o garantiu o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, é compreensível pelo humor sarcástico do ator que funciona como contraponto ao desgaste emocional que seus papéis costumam abordar. Seu personagem chamado Benjin é chamado por seu primo, para participar de um “tour” pela Polônia por pontos marcantes na história judaica, além da casa onde a tia mais querida de Benjin viveu.
Por outro lado, tem o David (Jesse Eisenberg), um cara comum, pai de família, que leva uma vida tranquila, mas vive aquela pequena inveja discreta do primo. No fundo, ele queria ter o mesmo charme e jogo de cintura pra lidar com as pessoas. Sendo a personalidade oposta deles, o fator para criar seus embates constantes ao longo do filme. A relação desses primos é o ponto forte do longa, a intimidade apresentada nos diálogos entre os dois atores é primorosa! A coexistência entre amor e ódio permite que o espectador se conecte ao decorrer da exposição do passado dos personagens durante a trama.
(Alerta de Spoilers) O debate sobre saúde mental é tratado com respeito em Verdadeira Dor, e cabe a Kieran Culkin dar vida a Benjin, um homem desiludido que tentou tirar a própria vida. Ele transforma o sarcasmo e o cinismo em escudos para mascarar sua vulnerabilidade. Infelizmente se limitar ao sarcasmo de Benjin para transpor seus sentimentos não permite que o longa em seu todo seja uma história emocionante. A falta de flashbacks e elementos em tela limita o público em se conectar com a potência emocional que essa viagem causa a eles, por exemplo, ao visitarem um campo de concentração, a direção de Jesse opta por não trazer diálogos, mas não investe em um jogo de câmera que transmita o quão devastador aquela visita está afetando Benjin e os demais judeus que estão participando. Muito menos investirem em uma trilha sonora para trazer o tom buscado pela direção.
A falta de tato de Jesse Eisenberg para fazer certas escolhas artísticas ainda garantiu ao longa algum destaque nas premiações em roteiro e na atuação de Kieran Culkin em indicações ao Oscar, mas ainda sendo claramente um desperdício visto os elementos ricos que não foram explorados com profundidade, como o passado dos primos, como Benjin chegou até seu esgotamento emocional, e explorar de forma mais subjetiva a história de sofrimento dos judeus. O que reflete na duração curta do longa, que tenta abordar temas complexos em apenas uma hora e meia de duração.
Apesar da falta de lapidação da direção, os momentos de intimidade na convivência e nas conversas de David e Benjin conseguem deixar a experiência mais cativante, sendo a química nos momentos simples de diálogos na sacada de prédios onde a atuação se destaca e torna a experiência de assistir A Verdadeira Dor valer a pena. Com certeza, irá agradar a maior parte do público pela curta duração e um roteiro envolvente, mas pode ser um pouco intragável para quem procura uma história aprofundada sobre os impactos causados pela saúde mental e a herança deixada por uma guerra.
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