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O BRUTALISTA – UM DESEMPENHO VORAZ E HIPNÓTICO

O destaque de Adrien Brody como melhor ator é quase unanime entre as premiações, que o garantiu o prêmio tanto pelo BAFTA Awards quanto o Globo de Ouro. Sendo quase que certa sua vitória na categoria para o Oscar (qual foi indicado). Continue conosco nessa matéria para ficar por dentro do O Brutalista, filme que estreia hoje (20)!

O favoritismo de Brody pode ser resumido na frase de Isabela Boscov: “Virou queridinha da Academia? Virou queridinha! Mas não é só da Academia. É porque ela é boa mesmo!”. Sua unanimidade entre as grandes premiações, que muitas vezes divergem em suas escolhas, faz deste um raro caso em que o prestígio é genuinamente merecido. Devorando a concorrência, o ator se entrega por completo às três horas e meia de filme, incorporando seu personagem com uma imersão impressionante. Através de expressões faciais, gestos e entonação, alcançando um nível de interpretação tão refinado que se torna difícil distinguir onde termina o ator e começa a ficção.

Em meio as acusações de uso de Inteligência Artificial, O Brutalista vem sendo alvo de críticas pelo seu uso (assim como Emília Perez), para aperfeiçoar o sotaque húngaro dos personagens. Como também, para compor algumas cenas de paisagem. O que de fato não parece ter afetado as conquistas do longa, além da aclamação do público que vem elogiado com entusiasmo o filme.

Acompanhamos na trama László (um personagem fictício), arquiteto húngaro-judeu, desde o momento de sua fuga do holocausto na Alemanha, até sua chegada aos Estados Unidos, logo nos minutos iniciais, o recebendo, mas não o acolhendo de fato. Desconstruindo a imagem do país americano como destino dos sonhos, que na verdade, o trouxe feridas dolorosas, mesmo que tenha o tornado um dos mais conhecidos arquitetos do brutalismo. Inicialmente um arquiteto brilhante, László cai no esquecimento com o avanço da perseguição aos judeus. Nos Estados Unidos, encontra abrigo temporário com um parente até ser descoberto por Harrison (Guy Pearce), um bilionário que, ao mesmo tempo em que o idolatra, o impulsiona a projetar sua obra mais ambiciosa: um santuário subversivo que também funcionaria como igreja. No auge da miséria, László passa a viver na mansão de Harrison, e, posteriormente, graças ao advogado judeu do magnata, consegue se reunir com sua esposa e sobrinha, que estavam refugiadas em outro país da Europa.


O que a principio aparenta ser um sonho se realizando, se torna uma relação tensa e complexa entre a família de László e a de seu chefe. Em uma convivência amistosa, ambas as famílias passam a conviver, Erzsébet (a esposa do arquiteto), é a figura que vai verbalizar o desconforto e as verdadeira face da família quanto ao alto custo que eles devem ceder para agradar a família esnobe que eventualmente os descarta sem qualquer piedade. A voracidade com que o diretor Brady Corbet expõe críticas sociais aos estadunidenses não só é eficaz, mas também escancara um momento real da história, quando o país recebeu milhares de imigrantes fugindo do Holocausto. Além disso, ressoa com o cenário atual, marcado por uma campanha conservadora de deportação em massa de imigrantes ilegais. A hostilidade norte americana não é amenizada: insultos, desdém e a desumanização do protagonista expõem a hipocrisia e a falsa caridade não apenas do magnata, mas de toda a sociedade em sua visão sobre estrangeiros marginalizados.

A violência sofrida na Alemanha se torna em arte quando é revelado que as construções criadas por László durante O Brutalista são diretamente inspiradas em câmaras de gás que o personagem presenciou antes de sua fuga. As estruturas rígidas, cinzentas e gigantes imaginadas por László, fundamentalmente Brutalistas se mesclam com a personalidade do personagem de forma orgânica, o nariz marcante, a alta estatura do ator e seu estilo estão em consonância com seu estilo arquitetônico, ultrapassando a imediata relação com sua psiquê.


A montagem e fotografia do diretor são extremamente experimentais. A constante mudança de proporção da tela causa estranheza e este recurso é reflete diretamente com a sensação quer transmitir ao público, achatando ou esticando a tela freneticamente. Somada a trilha-sonora excêntrica que mistura Dark Cabaret, Club Jazz e o próprio Brutalismo, como amplificadores dessa estranheza sinestésica entre som e imagem que criam a atmosfera desconfortável assim como o próprio protagonista enxerga o mundo a sua volta.


Em suma, a experiência de O Brutalista é densa em quase quatro horas de duração, abordando temas complexos, não atrapalham a imersão quase que inevitável na história de vida dessa figura tão representativa para grupos marginalizados, explorando temas sensíveis e que se conectam diretamente com o espectador. Mesmo que incomode uma parcela de pessoas que não se conectam com narrativas mais alternativas, pode se tornar um ‘cult’ contemporâneo que será lembrado pelos cinéfilos por muitas décadas.